A Secretaria de Comunicação do governo, cujo titular é Thomas Traumann, elaborou um documento aloprado sobre a situação política do país, propondo um conjunto de ações eivado de ilegalidades. Acredita-se na possibilidade de reverter o desgaste de
Se a receita fosse mesmo essa, a Secom teria que, literalmente, chafurdar no mar de lama. Por quê? Dilma Rousseff derreteu. Em pouco mais de um mês, os que consideravam seu governo ótimo e bom despencaram de 44% para 13%. Os que o avaliam como ruim ou péssimo saltaram de 23% para 62%, e caíram de 35% para 24% os que o veem como regular. Os números são do Datafolha e estão na edição da Folha desta quarta. O instituto entrevistou 2.842 pessoas entre os dias 16 e 17. Pode-se argumentar que os dados estão sob o impacto dos protestos do dia 15. Mas também é possível considerar que os protestos do dia 15 só foram tão bem sucedidos porque esses sãos os números, não é mesmo?
Não há boa notícia possível para Dilma. Pela primeira vez, desde que o PT está no poder, a reprovação ao governo no Nordeste encosta nos números do Sudeste, onde a presidente conta com apenas 10% de ótimo e bom e 66% de ruim e péssimo. Entre os nordestinos, esses números são, respectivamente, 16% e 55%. A região mais severa com a presidente é o Centro-Oeste: 75% de ruim e péssimo e só 10% de ótimo e bom. No Sul, estes números são, na ordem, 64% e 13%. Só a Região Norte destoa um pouco, mas ainda com números francamente hostis à presidente: 51% de ruim e péssimo e 21% de bom e ótimo.
Dilma, como eu já havia apontado aqui na pesquisa de fevereiro, viu desabar a sua popularidade entre os pobres: acham seu governo ruim ou péssimo 60% dos que ganham até dois salários mínimos; 66% dos que recebem de dois a cinco; 65% entre os que ganham entre cinco e dez e mais de dez. O seu mais alto índice de ótimo e bom, bem mixuruca, está na faixa de até dois mínimos: 15%; o mais baixo, na de dois a cinco: 10%.
Se os números são ruins, as expectativas podem ser piores. Sessenta por cento acreditam que a situação econômica vai piorar, e só 15%, que vai melhorar. Para 77%, a inflação vai subir, e só 6% acreditam que vai cair . Creem que o desemprego vai aumentar 69% dos entrevistados, contra apenas 12% que pensam o contrário. Segundo o Datafolha, é o maior pessimismo registrado no país desde 1997.
O governo e os petistas deveriam parar com essa bobagem de que os protestos contra o governo são coisa de rico, não é mesmo? Como se nota, os pobres formam hoje um formidável público potencial para as manifestações. Ainda que não tenham aderido em massa à mobilização do dia 15, parece que podem fazê-lo a qualquer momento. Se a tática desesperada da Secom for posta em prática, aí é que o bicho pode mesmo pegar. A nota atribuída pelos entrevistados a Dilma também caiu: de 4,8 em fevereiro para 3,7 agora.
O Congresso não merece avaliação melhor em tempos de petrolão: só 9% dizem que seu trabalho é ótimo ou bom, contra 50% que o têm como ruim e péssimo. Os números são péssimos, sim, mas é evidente que a crise política não tem origem no Parlamento.
Como Dilma sai das cordas? Uma coisa é certa: não é alimentando a guerra suja, como sugere um documento da Secom. Talvez um primeiro passo fosse se cercar de gente capaz de entender a natureza da crise. Até agora, não há ninguém com esse perfil. O petismo aloprado só a aproxima ainda mais do abismo.
texto publicado originalmente às 5:37
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