segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Cobertura de atentado em Paris é a mais nova decepção do "Jornal Nacional"

A sexta-feira (13) de horror na capital francesa chocou o planeta. O dia ficará marcado na história como uma versão europeia do 11 de setembro. Trocam-se alguns atores, como a Al Qaeda pelo Estado Islâmico, mas o impacto que o atentado parece ter nos rumos geopolíticos do mundo é novamente assustador.
 
Claro, a proporção de vítimas fatais é 10 vezes menor que naquele fatídico dia. Porém maior do que em qualquer outro ato terrorista nas grandes metrópoles ocidentais desde o ataque ao sistema de trens de Madri em março de 2004.
É evidente também que Paris possui bem menos representação da imprensa brasileira do que Nova York. Assim como o horário nobre para nós dificultou a derrubada das grades de programação na TV.

É o caso da Globo. Primeiro, quando os números ainda não confirmavam, mas as evidências já apontavam para uma tragédia colossal, a emissora optou em não utilizar seu Plantão, reduzindo a primeira cobertura para flashes nos intervalos.
A compensação viria no “Jornal Nacional”, certo? Não. O “JN” fez aquela que possivelmente deve ser reconhecida até internamente como uma de suas piores coberturas ao vivo em todos os tempos.
 
A edição, confusa, parece ter sido paginada ao vivo sem nenhum critério. Faltou uma definição clara se era um dia comum com inserções eventuais de Paris ou uma ocasião de fato especial com um esforço de reportagem para manter ao máximo a notícia do momento no ar.

Revezando entre informações do atentado e pautas completamente de gaveta como a produção de lixo eletrônico e uma colônia de férias para viciados em tecnologia, que podiam ser encaixadas em outro dia sem nenhum prejuízo, o “JN” mais confundiu do que informou.

É evidente que a tensão que a adrenalina imposta por uma cobertura ao vivo dessas atrapalha muito. Mas a sensação passada foi de que a perdição era mais editorial (sobre qual espaço o atentado merecia) do que de conteúdo, afinal, no tempo que fosse reservado, não faltavam notícias importantes da França, como boa parte dos maiores canais do planeta já informava ininterruptamente naquela altura.
Nos momentos em que o terror ganhou espaço, a narrativa da conversa entre William Bonner e Roberto Kovalick, que falava da redação de Londres, foi absolutamente confusa. Além do delay do áudio, a linha de pensamento dos dois não coincidia. Um show de improviso no mau sentido.
 
Diante disso, Renata Vasconcellos praticamente sumiu e limitou-se a ler o TP. Ela, que sabidamente sabe ancorar coberturas ao vivo, como fez na Jornada Mundial da Juventude, sucumbiu diante das informações enroladas passadas por seus colegas.

Como já havia sido citado no NaTelinha nesta semana, através do repórter e colunista Gabriel Vaquer, o episódio não foi um dia ruim isolado. O principal noticiário do país vem emendando uma série de coberturas que podem ser classificadas de medianas para baixo.

No rompimento das barragens em Mariana (MG), as primeiras notícias também foram exibidas de forma sucinta e confusa, enquanto o dia seguinte trouxe um espaço até longo, mas de viés superficial.

Em tempo similar, o “Jornal Hoje” conseguiu na época prestar maiores esclarecimentos ao público sobre as causas e efeitos do desastre.

Curiosamente, o atual editor-chefe do “JH”, Luiz Fernando Ávila, que recentemente vem elevando o nível de cobertura de hard news da atração sem fazer com que ela perca a sua leveza característica, até meses atrás era editor-executivo do “JN”.

Talvez seja pretensioso personalizar o progresso de um e o regresso de outro nesses últimos tempos apenas em Luiz Fernando, já que ambos os jornalísticos possuem numerosas e competentes equipes, mas é fato que a sua mexida causou efeitos visíveis tanto aonde chegou quanto onde saiu.
Também nesta semana, durante a cobertura da morte da jornalista Sandra Moreyra, também foi do “JN” o espaço mais tímido para homenagear uma das principais repórteres da história da emissora.

O VT que relatou a carreira da profissional ficou “jogado” no meio da edição, enquanto nos demais telejornais da casa foi colocado oportunamente no encerramento, abrindo espaço para o honroso e merecido final em silêncio, fato ocorrido no “Bom Dia Brasil” e nas duas edições do “RJTV”.

Ou seja, são pelo menos três momentos significativos, daqueles que merecerão espaço na retrospectiva, em que o “JN” falha de forma inaceitável em cerca de 15 dias. A existência de algum problema é clara. Resta esperar que haja tempo para ele ser revertido e o telejornal mais assistido do país volte a fazer por merecer esse posto.

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