A terra dos pés de pau pelados

Eu não sei onde é que este pessoal da prefeitura está com a cabeça pra numa hora dessas andar fazendo estragos nas árvores das praças e avenidas, assim, pelando tudo feito quando se corta cabelo fazendo caminhos de rato em cabeça de menino. Será que esse pessoal andou enfiando a cabeça dentro de alguma panela de pressão pra deixar os miolos moles? Justo numa hora de grande aflição por causa do calor e desse sol quente dos diabos?

Em que escola de botânica, de agronomia, seja lá de que diabo foi que esse pessoal aprendeu esta ciência tão absurda de deixar as árvores nuas, do jeito que vieram ao mundo? Meteram a serra e pronto. Já não basta o que fizeram e em que sacola sem fundos meteram o Brasil? Fizeram uma malvadeza igual se faz com peixe. Tiraram a guelra e o fato pelo rabo. No caso das árvores pelaram foi tudo!

Já não bastasse esse calor dos infernos, esse sol quente que parece que acaba de sair do fogo e que deixa a gente com o tampo da cabeça pra saltar fora?! Agora esse pessoal acha de pelar tudo que é árvore sem se dar conta de que está fazendo um mal danado? O mundo está igual um caldeirão e a prefeitura me acha de pelar os pés de paus? O que é que esta gente tem realmente no coco entre as orelhas? Que cabeça mais oca a desse pessoal, meu Deus? O que é que estas árvores andaram fazendo de tão errado pra merecerem um castigo desses? Não deveria ser o contrário, plantar mais árvores?

Agora imagine você o constrangimento de uma árvore dessas, já puxada na idade, aparecer assim de repente com a copa cortada no talo dos galhos? Faz lembrar algumas mulheres que de repente acabaram cortando o cabelo bem curtinho só pra ficarem parecendo a Cecília Malan, a Estely Teles e a Sandra Annemberg. Esse penteado como se dizia no meu tempo, só assenta nas três competentes e queridas jornalistas brasileiras. 

Veja você. É o mesmo constrangimento de encontrar uma pessoa da nossa intimidade completamente despida no meio da rua. É o mesmo de se encontrar na praia da Pedra do Sal uma senhora já puxada na idade, acima dos, vamos dizer, cinquenta anos, usando biquíni fio dental. Por mais engraçado que possa parecer a gente fica com a cara no chão. Portanto as árvores que tiveram suas copas peladas devem estar morrendo de vergonha!

E me faz lembrar aquela história de um homem e um menino conversando sobre a natureza e cada um de seu tempo. E o menino, apontando uma árvore de certa distância, pergunta: como é que se chama aquela árvore lá na sua terra? Pé de pau. Pé de pau? Sim, pé de pau. Não conhece, nunca ouviu falar? Não. Conheço mangueira, oitizeiro, jaqueira, mas pé de pau é a primeira vez. Pois tem pé de pau, sim. E esse pé de pau de que o senhor fala, dá o quê? Sei não. Nunca me preocupei de espiar. Mas só conheço por pé de pau.

E na sua terra tem muito dessa árvore, esse tal de pé de pau? Uma porção delas. Coisa de até onde a vista alcança. Faz é fila. Em tudo que é quintal de minha terra tem um pé de pau. Coisa das folhas de encostar no céu. Mas de uns tempos pra cá chegaram lá uns cientistas contando lorotas e dizendo que aqueles pés de pau davam um remédio pra curar o câncer. Todo mundo acreditou. Foi por isso que meteram a serra e tiraram tudo quanto foi de folha. E agora o que foi que deu? Descobriram o tal remédio? Ah, até agora não deu em nada. Nem mais voltaram os entendidos. E me diga o senhor, como é mesmo o nome de sua terra, onde o senhor nasceu e se criou? Sei não, mas hoje estão chamando de Terra do Pau Pelado.

(*)Pádua Marques é jornalista e escritor