“Amor à Vida”, uma novela repleta de clichês, didatismo e um autor que julgou que continuava escrevendo para as faixas das 18h e 19h, tentando abordar temas adultos ao mesmo tempo em que tratava seu folhetim como uma espécie de “Zorra Total”, com seu pastelão habitual.
Religião, homossexualidade, autismo, sexo na terceira idade, virgindade, sequestro de bebês, barriga de aluguel, traição, vingança, enfim, não faltou assunto nessa produção de Walcyr Carrasco, entretanto, em meio a tantos temas espinhosos, nenhum teve um desenvolvimento que realmente acrescentasse a uma sociedade carente de reeducação. Tudo serviu para entreter, haja vista que toda temática caia no humor.
Tanto que foi impossível não rir no último capítulo quando, após tantas revelações, Pilar(Susana Vieira) se joga nos pés de César (Antonio Fagundes) e pede para criar seu filho, numa sequência de fazer inveja a “Maria do Bairro” e cia. Isso, sem contar Aline (Vanessa Giácomo) morrendo eletrocutada — apesar de existir originalidade no desfecho — e aquele casamento sem noção de Márcia (Elizabeth Savalla). Qual o sentido daquele cabelo deValdirene (Tatá Werneck)? E qual a razão de a personagem, um dos pilares dessa novela, ter aparecido tão pouco no final?
O pior, no entanto, foi o tratamento dado à autista Linda (Bruna Linsmeyer). Carrasco teria contribuído muito mais se tivesse colocado a personagem numa escola, brigando por um trabalho, enfim, atrás da inclusão social. Convivo de perto com alguém que tem autismo, uma pessoa com uma inteligência de fazer inveja e num grau quase imperceptível, entretanto, ainda assim, mal consegue se socializar com a família e amigos. Um final bonito, como o de Linda, não significa ganho de causa, já que o autor poderia ter trabalhado com mais afinco.
Também não é justo dizer que “Amor à Vida” degringolou por ter sido esticada, já que a trama começou a se perder no segundo mês, após um início com ares de superprodução, dando a ideia de que esta seria uma das melhores novelas já veiculadas às 21h.
O curioso, no entanto, é que mesmo com algo vazio, talvez Walcyr Carrasco consiga mudar o foco para o que lhe fez entrar para a história. Se com “Salve Jorge” Glória Perez ficou reconhecida como a dona da pior audiência da faixa, ele conseguiu o tão aguardado beijo gay.
Agora, finalmente uma novela global conquistou o que minisséries e demais atrações já tinham exibido. A questão, devo dizer, é que o questionamento vai seguir ainda por um bom tempo, afinal, Manoel Carlos já é pressionado por um beijo lésbico em “Em Família”. A dúvida, também, terá um foco diferenciado: logo vão querer entender o motivo de o beijo só acontecer no final das telenovelas — e eu também quero saber se o “Domingo Espetacular” fará reportagem contra o beijo na concorrente.
Por fim, cabe ressaltar que “Amor à Vida” não teve somente defeitos. Apesar do texto vazio, o elenco da Casa botou pra quebrar e é difícil citar apenas alguns nomes, por isso, resumo em dois: Mateus Solano e Antonio Fagundes, que protagonizaram uma das cenas finais mais lindas da TV. Fagundes, especialmente, pois esse último capítulo foi dele, com um tremendo espetáculo de expressões faciais. Calado, Fagundão já é um arraso!
E que venha “Em Família”, com Maneco e seus personagens que parecem da nossa família, ou vizinhos, e diálogos com textos impecáveis — com direito a Vivianne Pasmanternovamente botando pra quebrar como vilã o/
Endrigo Annyston
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