Com o tema "Favela", a São Clemente escolheu um belo samba-enredo e abusou das cores e da criatividade para falar dos hábitos nos morros. Usando muito humor, abordou a pobreza, falou de esperança, justiça social e contou detalhes da história desses locais. "A força da fé... sou eu / Se o bem vence o mal... valeu / O amanhã, vou conquistar / É preciso acreditar." A escola de samba do bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, entrou na avenida às 23h48 e encerrou a apresentação após 80 minutos (veja todas
A irreverência da agremiação sempre foi um ponto forte da escola. Em 2014 não foi diferente. Entre os 3.200 componentes, divididos em 35 alas e sete carros, pôde se ver detalhes divertidos do cotidiano das favelas: churrasquinho na laje, pipas, piscininhas de plástico e latas d'água ganharam espaço na Marquês de Sapucaí.
O abre-alas mostrou casas de madeira e, logo atrás, um senhor gigantesco que segurava uma cruz para retratar a Guerra de Canudos. E o que isso teria a ver com o tema? Conta a escola que foi após esse confronto do fim do século 19, no interior da Bahia, entre o Exército e um movimento popular liderado pelo religioso Antônio Conselheiro (o velhinho do carro alegórico), que surgiu, como hoje é conhecido, o termo favela.
Depois de Canudos ser dizimada, os soldados retornaram para o Rio e fundaram o Morro da Providência. Lá, teriam encontrado uma planta chamada favela, que deu nome à localidade e, quase 120 anos depois, virou enredo da São Clemente.
A ousadia fez a agremiação deixar momentaneamente o samba de lado para falar de funk, com direito a DJ gigante e grandes caixas de som. Outro destaque foi o carro Gaiola das Popozudas, com mulheres de calça apertada em cima de motos e dançarinas com roupas curtas para lembrar as participantes dos bailes nos morros.
A escola inteira cantou alto e a plateia acompanhou. Tudo harmônico e, em alguns momentos, emocionante. Como no último carro, em que os operários que trabalharam na construção das alegorias participaram da "favela do futuro" e, ao lado de integrantes de ONGs cariocas, pediram paz e união nas comunidades.A escola homenageou diversas favelas do Rio em suas alas, com fantasias originais e diferentes uma das outras. A da Rocinha trouxe bastante verde nas roupas de seus integrantes, a da Mangueira tinha a árvore que dá nome ao lugar e a do Complexo do Alemão mostrava postes e fios emaranhados em cada componente. Mais criativa de todas era a que representava o Morro Santa Marta, com a enorme pedra que existe no local e uma alusão ao astro Michael Jackson, que gravou um clipe ali quando esteve no Brasil, em 1996.
Com humor, um belo samba-enredo, paradinhas longas e bem executadas e muito colorido, a escola deu um espetáculo digno das maiores escolas do Rio.
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