terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Nosso turismo pode importar camelos pra lagoa do Portinho

Por:Pádua Marques(*)

Agora que a lagoa do Portinho morreu de vez, muita gente vem de longe somente pra reclamar, dar palpite idiota, culpar este ou aquele órgão de governo ou simplesmente pra ver o defunto insepulto, ali, fedendo em cima da terra, eu me pus aqui a pensar se não seria interessante alguns ditos empresários do setor de turismo de Parnaíba e Luiz Correia importarem, assim já, no mais tardar pra temporada de junho e julho, de início uns cinco camelos.
Seria, me desculpem a brincadeira, pra se fazerem grandes travessias de turistas, partindo donde era a finada lagoa do Portinho, seguindo deserto pra dentro até a fronteira com outra lagoa, a do Sobradinho. Eu até hoje, sinceramente, neste meu entendimento e ignorância, não sei por que tem este nome se lá mal tem coisa de umas duzentas taperas, se muito. Mas esta ideia de importar camelos pra atender ao turismo de aventuras bem que, se levada a sério, poderia a partir de agora minimizar o efeito ruim da morte da lagoa, que cá comigo, nunca mereceu o carinho e o cuidado de quem deveria.
Dá até pra imaginar aquelas filas, todos querendo subir ao mesmo tempo nos camelos, somente pra ter a sensação de alguma coisa nova, de se sentirem no deserto da Líbia, Tunísia, Marrocos e coisa e tal. Estarem nas grandes caravanas por semanas e mais semanas. E lá fora a Parnaíba seria tratada com muita importância na mídia especializada porque, enquanto na África, principalmente naquela região de desertos há sempre riscos de se ser atingido por bala perdida de algum beduíno, na temporada de camelos da finada lagoa do Portinho entre Parnaíba e Luiz Correia não haveria este problema ou risco.
Mas nada de nessa estória de economia besta querer comprar jumento pra uso nesta empreitada. Jumento é animal muito pequeno, tem cara de preguiçoso, sonso, come muito, bebe mais ainda, carrega pouca carga e quando mete naquela cabeça dura de não sair do lugar é pior do que sindicalista linha dura. E de certo modo não iria chamar atenção de turistas. Ao menos naquelas ocasiões em que vê umapariceira da marca dele e se dana a ficar saliente. Seria um risco colocar um bicho desses numa travessia de várias horas ou dias transportando americanos, canadenses, ingleses ou noruegueses que nunca viram na vida um jumento, como se diz, em ponto de bala. 
Vai que este mau elemento, ignorante de pai e mãe vê no meio daquele areal todo uma companheira de patuscadas e assim sem mais nem menos joga ao chão quem estiver em cima do lombo?! Daria um enorme prejuízo ao negócio. O que a imprensa internacional não iria falar de nós? Eu sou a favor que se faça já, agora, uma licitação, um edital, sei lá o quê, abrindo condições pra se importar os camelos pra trabalharem um novo momento de nosso turismo receptivo. Vamos sim trazer, importar camelos pela ZPI, Zona de Processamento de Importações, que certamente deve estar nos planos do governo mais este órgão pra desenvolver o Piauí. Os camelos vão com certeza ser um grande avanço. Com aquela caminhada lenta na direção do deserto sem fim eles vão longe. Muito longe.

(*)Pádua Marques é escritor e jornalista

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