Caros
leitores, o segredo de aborrecer é dizer tudo, afirmava Voltaire. Então
vamos lá. A defesa do empresário Gérson de Mello Almada,
vice-presidente da Engevix, que está preso desde o dia 14 de novembro,
entregou à Justiça Federal um documento de 85 páginas em que afirma que
o superfaturamento de obras da Petrobras tinha o objetivo de “bancar os
custos altos das campanhas eleitorais” e que o dinheiro pagava a base
aliada do governo no Congresso. O texto sustenta ainda que o PT era o
organizador do esquema: “Faz mais de 12 anos que um partido político
passou a ocupar o poder no Brasil. No plano da manutenção desse partido
no governo, tornou-se necessário compor com políticos de outros
partidos, o que significou distribuir cargos na administração pública e
em sociedades de economia mista”.
Os
advogados de Mello Almada, que é acusado de corrupção ativa, organização
criminosa e lavagem de dinheiro, sustentam que a Petrobras não era
vítima nas ações criminosas. Ao contrário: segundo o texto, as empresas
eram extorquidas, e Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento,
teria sido um dos agentes dessa extorsão.
Então tá.
Há duas frentes de investigação: a da Justiça Federal do Paraná,
comandada pelo juiz Sérgio Moro, e a do STF, que reúne os políticos com
foro especial por prerrogativa de função. É claro que a estratégia da
defesa parece ser unificar o caso no Supremo. O esforço se insere no
direito de defesa. Nada a opor. Se os advogados serão ou não
bem-sucedidos, veremos.
É evidente
que as empresas também cometeram crimes. Se estavam sendo extorquidas —
e eu acho que havia, sim, extorsão também —, que se reunissem e
denunciassem a canalha. Mas a gente sabe como são as coisas: todos se
juntam contra o erário.
Mas eu
concordo, sim, com um aspecto: a Petrobras nunca foi vítima de nada. As
vítimas, nesse caso, são os brasileiros, que foram roubados. Até hoje me
espanto com a, como direi?, leveza dos ombros de José Sérgio Gabrielli,
presidente da estatal durante as muitas sem-vergonhices. Gabrielli é
aquele que se reunia clandestinamente com José Dirceu. Então as
diretorias de Serviço, Abastecimento e Internacional eram antros da
corrupção, a serviço também de partidos, muito especialmente do PT, e
ele realmente não sabia de nada? O próprio Alberto Youssef afirmou num
depoimento que as empreiteiras sempre foram muito fiéis no pagamento da
propina porque tinham outros negócios no governo e sabiam que poderiam
ser prejudicadas.
Não dá
mesmo, e eu concordo, para dissociar a roubalheira da Petrobras do
esquema de poder que ela sustentava. Se isso vai ou não unificar os
processos no STF, não sei. Uma coisa é certa: os empreiteiros não se
uniram numa organização criminosa só para fraudar a Petrobras. A propina
tinha um endereço: partidos políticos. Como diz o documento, era
preciso remunerar a base aliada. A Petrobras, então, se transformou,
sim, num centro de extorsão.
Acho que o
foco dessa coisa toda está um pouco distorcido. Há uma certa fúria
contra o capital privado, visto como o grande vilão da história. Já li
vários textos exaltando: “Ah, desta vez os corruptores estão pagando o
pato!”. Vamos com calma! O que não pode acontecer é, mais uma vez, os
verdadeiros beneficiários da patifaria saírem flanando por aí, livres,
leves e soltos. José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino já estão em
casa. A banqueira Kátia Rabelo e o publicitário Marcos Valério, em cana.
Até parece que a dupla conseguiria fazer o mensalão sem a colaboração
dos outros.
Cadê, afinal, José Sérgio Gabrielli?
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