segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Lava Jato pode ter desdobramentos em campanhas eleitorais no Piauí

Em 2014, 50,3% do dinheiro arrecadado por Wellington Dias veio de empresas investigadas pelo MPF
Eleito governador em 2014, Wellington Dias (PT) recebeu R$ 4,8 milhões em doações oficiais naquele ano, deste total, metade veio de empresas ligadas e investigadas na operação Lava Jato. As informações são do próprio Tribunal Superior Eleitoral.

Juntas, UTC Egenharia S/A e Construtora OAS S/A doaram mais de meio milhão de reais. Mas, a empresa que mais deu dinheiro para Wellington Dias, e que teve seu nome envolvido com dois escândalos nacionais, um deles a Lava Jato, foi a Cervejaria Petrópolis. Ao todo, a dona da marca de cerveja Itaipava doou R$ 1,9 milhão para a campanha do PT no Piauí em 2014.

Somadas todas as doações das empresas ligadas à Lava Jato, Wellington Dias recebeu delas o montante de R$ 2,45 milhões, correspondente a 50,3% do total de dinheiro usado na campanha para governador.
BNB e Petrobras: ingredientes de um escândalo
As atividades empresariais da Cervejaria Petrópolis em nada coincidem com o ramo de atuação das empreiteiras já denunciadas pela Lava Jato. Entretanto, a IstoÉ denunciou a ligação da Petrópolis com o esquema de corrupção na Petrobras. Segundo a revista, a força-tarefa da Operação Lava Jato vai chegar a Walter Faria, o Sr. Itaipava, dono da cervejaria.

Segundo a delação premiada do executivo Júlio Camargo, para vencer a disputa pelo afretamento do navio-sonda Petrobras 10000, em 2006, Camargo pagou US$ 15 milhões de propina. O juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato já sabem que o dinheiro foi depositado pela Piemont Investment Corp., uma empresa offshore de Camargo localizada no Uruguai, em diversas contas no exterior, todas elas indicadas por Fernando Baiano (apontado como lobista do PMDB) e Nestor Cerveró, ex-diretor Internacional da estatal. “Fernando e Cerveró indicavam as contas que deveriam receber o dinheiro, mas não sei a quem elas pertencem”, disse Camargo na delação feita para a equipe do procurador Deltan Dallagnol.

Os documentos revelados pela ISTOÉ mostram que a conta que ficou com a maior parte do dinheiro foi a Headliner Limited. Sediada em Lugano, na Suíça, em apenas oito meses a Headliner recebeu US$ 3 milhões de Camargo. Foram três depósitos de US$ 500 mil e um de US$ 1,5 milhão. A conta Headline, segundo os extratos bancários e declarações de renda obtidos pela reportagem da revista, pertenceria a Walter Faria, o dono da Cervejaria Petrópolis.

Empréstimos facilitados no BNB
Segundo o jornalista Mário Simas Filho, fontes no Ministério Público Federal disseram que a "o fato de a Cervejaria Petrópolis se tornar um dos maiores financiadores das campanhas  do PT é parte de um milionário tomá-la-da-cá nada republicano." 

No começo de 2013, a Cervejaria Petrópolis conseguiu um empréstimo de R$ 375 milhões no Banco do Nordeste - BNB para construir uma fábrica na Bahia. A empresa acumulava dívidas de aproximadamente R$ 400 milhões com a Receita Federal. O empréstimo foi aprovado pelo BNB com a exigência da apresentação de uma carta-fiança de outro banco. Desde 2011, Wellington Dias mantém um indicado político no Banco do Nordeste, trata-se de Luiz Carlos Everton de Farias.

Em abril de 2014, a Cervejaria Petrópolis conseguiu mais R$ 452 milhões junto ao BNB. Os dois empréstimos haviam sidos realizados com a carta-fiança de outro banco como garantia, o que, segundo a ISTOÉ, elevou muito os custos.

Em setembro de 2014, parte da direção do BNB mudou. Assumiu a presidência Nelson de Souza. Piauiense. Sua indicação teria partido de Wellington Dias. O fato foi negado por Nelson, mas ele já havia sido indicado a outro cargo federal, o de vice-presidente da Caixa por Wellingon Dias em 2011.

Com a mudança, em apenas 24 horas a Cervejaria Petrópolis conseguiu se livrar das cartas fianças e apresentar garantias que, segundo analistas ouvidos pela ISTOÉ, jamais seriam aceitas por um banco privado. 

Dois dias depois de conseguir alterar as garantias dos empréstimos milionários, a campanha de Wellington Dias recebeu R$ 950 mil da Cervejaria Petrópolis. Três dias depois, no dia 22 de setembro de 2014, outros R$ 950 mil foram transferidos para a campanha, totalizando R$ 1,9 milhões em doações. A empresa tornou-se, de longe, a maior doadora única da campanha de Wellington Dias. 

Os empréstimos do BNB para a Cervejar Petrópolis são alvos de investigações do MPF e da Procuradoria Geral da República.

Autor: Fábio de Melo Sérvio/Capital Teresina | Edição: Jornal da Parnaíba

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