Seis anos após deixar a casa onde nasceu, Amaynara Pataxó, de 27 anos, voltou à sua aldeia em Carmésia, no Vale do Rio Doce, lugar onde vivem pouco mais de 300 índios, com o diploma de medicina na mala. “A primeira médica pataxó de Minas Gerais”, disse a jovem generalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A colação de grau aconteceu em Belo Horizonte, no dia 23 de dezembro. Além de Amaynara, Vazigton Guedes Oliveira, também Pataxó, esteve entre os cerca de 130 formandos. “É de ‘encher os olhos’ adquirir o conhecimento para ajudar na comunidade”, contou o médico, o primeiro índio a se formar em medicina entre os quatro mil da etnia que vivem em Cumuruxatiba, distrito de Prado, no sul da Bahia. “É uma conquista em conjunto. De um povo”, disse.
Amaynara e Vazigton entraram na UFMG graças ao Programa de Vagas Suplementares para Estudantes Indígenas, iniciativa criada em 2009 como projeto experimental. Segundo a universidade, entre 2010 e 2013, 46 alunos indígenas ingressaram nos cursos de Enfermagem, Medicina, Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Agronomia e Odontologia por meio de processo seletivo especial.
“O pessoal do programa foi até a aldeia para saber se havia interesse dos jovens. Todos já sabiam da minha vontade de ser médica. De ajudar a minha comunidade através da medicina. Aí disseram, ‘agora é a vez da Amaynara’”, contou a jovem.
Os dois médicos querem se especializar em saúde da família e trabalhar com o povo indígena. “Aqui na comunidade sempre vem médico, mas ele fica pouco tempo. Quero ganhar experiência primeiro e retornar preparado para ajudar”, disse Vazigton. “O melhor de ser médica é o cuidado, o poder contribuir com o outro. As pessoas olham para nós com esperança”, contou Amaynara.
Choque cultural“O trânsito é aterrorizante”, disse Vazigton ao se lembrar de Belo Horizonte. Acostumado à tranquilidade da aldeia em Cumuruxatiba, o índio demorou a se acostumar com a cidade grande. “Nunca precisei usar tênis em casa. Lá é litoral. Calor o ano todo. Quando cheguei a BH estava muito frio. Fiquei muito doente”, contou.
Amaynara já conhecia a capital mineira. “A gente vendia artesanato, fazia apresentações. Tinha noção do que era, mas morar é diferente, né?”. Segundo ela, todos se ajudam na comunidade em Carmésia. “Sempre podia contar com os meus parentes. Em BH é casa um por si”, disse.
“Foi difícil se adaptar ao ritmo. Foi tudo muito rápido. Mas conseguimos”, contou Vazigton.
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