O Conversa Afiada reproduz artigo de Marcos Coimbra, extraído de CartaCapital:
A imagem de Temer
Dilma Rousseff tem popularidade baixa, mas o peemedebista está em uma situação ainda pior
Na mais recente pesquisa CUT/Vox Populi, a comparação entre dois resultados chama atenção. Não por ser inédita, pois outros levantamentos já a haviam apresentado, mas por seu significado e consequências.
São os números da avaliação com que Dilma Rousseff chegou à semana em que, aos olhos da população, seu governo termina, comparados àqueles de Michel Temer no início do seu. Para a opinião pública, ainda que restem lances por jogar, a saída de Dilma do Palácio do Planalto, depois de inaugurado no Senado o processo de impeachment, representa o fim de um ciclo e o começo de outro.
O extraordinário na comparação é constatar que Dilma, no fundo do poço, é mais bem avaliada que Temer antes de começar. Como se vê na tabela que ilustra este texto, no fim de abril a avaliação negativa do peemedebista era maior e a positiva menor que a da petista.
Não são diferenças grandes, mas apontam na mesma direção: Temer assume com índices mais baixos que aqueles de Dilma ao deixar o governo. E não apenas isso, pois a imagem do vice-presidente piora à medida que aumenta seu nível de conhecimento. Em dezembro passado, quando 55% dos entrevistados ignoravam de quem se tratava, sua avaliação negativa estava em 47%. Agora, quando o desconhecimento veio para 40%, a proporção de quem o julga “ruim” ou “péssimo” foi a 62%.
Na avaliação positiva, vê-se o efeito de pertencer a um partido com maior sustentação popular. O PMDB de Temer o ajudava pouco, enquanto o PT de Dilma, apesar dos problemas e do desgaste contínuo ao qual foi submetido nos últimos anos, a colocava em patamar duas vezes mais elevado.
As grandes corporações de mídia, é de se esperar, não abandonarão Temer depois de tanto lutar por sua ascensão. Tendem, portanto, a se engajar no esforço de melhorar sua avaliação. Quanto e em que velocidade são dúvidas.
Devemos lembrar: ter elevada ou baixa popularidade não apenas alegra ou entristece um governante, apesar de produzir tais efeitos. Uma ou outra costumam ter reflexos imediatos no Congresso, especialmente na Câmara dos Deputados, espaço no qual os governos adquirem ou perdem condições de sobrevivência, noção aprendida desde a Constituição de 1988 e patente na longa crise atual.
Por dois motivos: na Câmara, é mais estreito o vínculo entre a popularidade presidencial e a qualidade do relacionamento com o Executivo. De um lado, decorre da menor duração do mandato de deputados em comparação ao de senadores, o que aguça sua sensibilidade à conjuntura. De outro, de as eleições municipais funcionarem como uma espécie de mid-term elections para boa parte de seus integrantes. Os deputados que dependem do apoio de prefeitos e cabos eleitorais nos municípios logo são informados, por meio desses, se um presidente vai bem ou mal e raramente se dispõem a contrariar o “sentimento das bases”. Suas carreiras existem em função da capacidade de pressentir para que lado o vento sopra.
Governos mal avaliados, em geral, tendem a enfrentar problemas, enquanto os bem avaliados, não. Significa dizer que a chance de aprovação de medidas originadas de administrações malquistas é menor, tanto mais quanto mais antipáticas forem as propostas, independentemente da habilidade revelada nas negociações de balcão.
Nem o cenário nem o calendário são propícios a Temer. A popularidade de largada é baixa. Segundo o que se anuncia, o peemedebista pretende executar uma agenda impopular, o que pode empurrar sua avaliação a níveis ainda piores. Mas não tem escolha, pois para chegar ao poder comprometeu-se com essa agenda. O dilema é complicado: acentua a impopularidade se fizer o prometido. Caso não faça, condena-se à sina de Dilma após a eleição de 2014, quando contrariou as expectativas daqueles que lhe haviam dado o mandato.
O calendário não contribui. Na melhor hipótese, repetiria Itamar Franco, que começou com avaliação média, sustentada pela comparação com o governo anterior, mas limitada pela dificuldade em apresentar-se como ruptura autêntica. Nos meses seguintes, à medida que o ambiente do impeachment ficar mais distante, o mais provável é o aumento da cobrança por resultados. No caso de Itamar, a popularidade caiu sistematicamente, levando-o, um ano após a posse, a obter índices semelhantes aos de Dilma.
Diferentemente, no entanto, de Itamar, poupado do problema por assumir o governo na antevéspera de uma eleição municipal, Temer toma posse cinco meses antes da próxima. Ou seja, a parcela da Câmara com interesse na eleição de prefeitos e vereadores tenderá a condicionar seu comportamento parlamentar aos humores de um eleitorado que, em outubro, provavelmente não estará em lua de mel com o governo.
Dificuldades com a opinião pública, problemas no Congresso, frustração de quem o quis, má vontade de quem não o queria. Assim ocorreu com Dilma a partir de 2015. Assim começará Temer. O vice conta, é claro, com a simpatia dos donos da mídia e dos grandes empresários, visceralmente avessos à petista. Mas eles não votam no Congresso nem vencem eleições. Por esse motivo, ninguém sabe como vai terminar o novo governo.
Na mais recente pesquisa CUT/Vox Populi, a comparação entre dois resultados chama atenção. Não por ser inédita, pois outros levantamentos já a haviam apresentado, mas por seu significado e consequências.
São os números da avaliação com que Dilma Rousseff chegou à semana em que, aos olhos da população, seu governo termina, comparados àqueles de Michel Temer no início do seu. Para a opinião pública, ainda que restem lances por jogar, a saída de Dilma do Palácio do Planalto, depois de inaugurado no Senado o processo de impeachment, representa o fim de um ciclo e o começo de outro.
O extraordinário na comparação é constatar que Dilma, no fundo do poço, é mais bem avaliada que Temer antes de começar. Como se vê na tabela que ilustra este texto, no fim de abril a avaliação negativa do peemedebista era maior e a positiva menor que a da petista.
Não são diferenças grandes, mas apontam na mesma direção: Temer assume com índices mais baixos que aqueles de Dilma ao deixar o governo. E não apenas isso, pois a imagem do vice-presidente piora à medida que aumenta seu nível de conhecimento. Em dezembro passado, quando 55% dos entrevistados ignoravam de quem se tratava, sua avaliação negativa estava em 47%. Agora, quando o desconhecimento veio para 40%, a proporção de quem o julga “ruim” ou “péssimo” foi a 62%.
Na avaliação positiva, vê-se o efeito de pertencer a um partido com maior sustentação popular. O PMDB de Temer o ajudava pouco, enquanto o PT de Dilma, apesar dos problemas e do desgaste contínuo ao qual foi submetido nos últimos anos, a colocava em patamar duas vezes mais elevado.
As grandes corporações de mídia, é de se esperar, não abandonarão Temer depois de tanto lutar por sua ascensão. Tendem, portanto, a se engajar no esforço de melhorar sua avaliação. Quanto e em que velocidade são dúvidas.
Devemos lembrar: ter elevada ou baixa popularidade não apenas alegra ou entristece um governante, apesar de produzir tais efeitos. Uma ou outra costumam ter reflexos imediatos no Congresso, especialmente na Câmara dos Deputados, espaço no qual os governos adquirem ou perdem condições de sobrevivência, noção aprendida desde a Constituição de 1988 e patente na longa crise atual.
Por dois motivos: na Câmara, é mais estreito o vínculo entre a popularidade presidencial e a qualidade do relacionamento com o Executivo. De um lado, decorre da menor duração do mandato de deputados em comparação ao de senadores, o que aguça sua sensibilidade à conjuntura. De outro, de as eleições municipais funcionarem como uma espécie de mid-term elections para boa parte de seus integrantes. Os deputados que dependem do apoio de prefeitos e cabos eleitorais nos municípios logo são informados, por meio desses, se um presidente vai bem ou mal e raramente se dispõem a contrariar o “sentimento das bases”. Suas carreiras existem em função da capacidade de pressentir para que lado o vento sopra.
Governos mal avaliados, em geral, tendem a enfrentar problemas, enquanto os bem avaliados, não. Significa dizer que a chance de aprovação de medidas originadas de administrações malquistas é menor, tanto mais quanto mais antipáticas forem as propostas, independentemente da habilidade revelada nas negociações de balcão.
Nem o cenário nem o calendário são propícios a Temer. A popularidade de largada é baixa. Segundo o que se anuncia, o peemedebista pretende executar uma agenda impopular, o que pode empurrar sua avaliação a níveis ainda piores. Mas não tem escolha, pois para chegar ao poder comprometeu-se com essa agenda. O dilema é complicado: acentua a impopularidade se fizer o prometido. Caso não faça, condena-se à sina de Dilma após a eleição de 2014, quando contrariou as expectativas daqueles que lhe haviam dado o mandato.
O calendário não contribui. Na melhor hipótese, repetiria Itamar Franco, que começou com avaliação média, sustentada pela comparação com o governo anterior, mas limitada pela dificuldade em apresentar-se como ruptura autêntica. Nos meses seguintes, à medida que o ambiente do impeachment ficar mais distante, o mais provável é o aumento da cobrança por resultados. No caso de Itamar, a popularidade caiu sistematicamente, levando-o, um ano após a posse, a obter índices semelhantes aos de Dilma.
Diferentemente, no entanto, de Itamar, poupado do problema por assumir o governo na antevéspera de uma eleição municipal, Temer toma posse cinco meses antes da próxima. Ou seja, a parcela da Câmara com interesse na eleição de prefeitos e vereadores tenderá a condicionar seu comportamento parlamentar aos humores de um eleitorado que, em outubro, provavelmente não estará em lua de mel com o governo.
Dificuldades com a opinião pública, problemas no Congresso, frustração de quem o quis, má vontade de quem não o queria. Assim ocorreu com Dilma a partir de 2015. Assim começará Temer. O vice conta, é claro, com a simpatia dos donos da mídia e dos grandes empresários, visceralmente avessos à petista. Mas eles não votam no Congresso nem vencem eleições. Por esse motivo, ninguém sabe como vai terminar o novo governo.
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