A maior empresa do Brasil estava ontem completamente acéfala. Se precisasse de alguém para tomar uma decisão relevante, não haveria. É claro que deveria ter sido convocada uma reunião extraordinária do conselho para a nomeação de uma nova diretoria, até porque a reunião de amanhã nem tem isso em pauta. O governo conseguiu piorar o que já estava ruim, e pelo motivo errado.
Não é uma empresa qualquer, nem uma crise qualquer. É um transatlântico chamado Petrobras no meio de um maremoto. E a presidente da República chamou a presidente da empresa para demiti-la por ter tomado decisões certas nos últimos dias e pela transparência ao divulgar o dado encontrado pelas auditorias externas.
O que a presidente Dilma demonstrou neste evento, que acabou levando à saída de Graça Foster e de cinco diretores da empresa, foi que os novos dirigentes não terão independência. A qualquer desgosto ou contrariedade, Dilma pode chamá-los a Brasília e desautorizá-los.
O que aconteceu na última reunião do conselho de administração foi a aprovação de corte de 30% dos investimentos, que estavam, inclusive, no PAC; cancelamento da construção de duas refinarias que só dariam prejuízo; anúncio de que a diferença entre o valor justo e o valor que estava contabilizado em 31 ativos era de R$ 88 bilhões.
Isso foi resultado de um duro trabalho nos últimos meses da diretoria que sai. Trabalharam juntos com os auditores que contrataram e com a PricewaterhouseCoopers (PwC), empresa de auditoria que fez essas exigências para assinar o balanço. Tudo se encaminhava para que em maio fosse divulgado então o balanço auditado de 2014. Foi essa mesma diretoria que decidiu não fazer mais contratos com as empreiteiras que estão envolvidas nos escândalos da Lava-Jato, até que tudo se esclareça. Medidas duras, que contrariaram interesses.
Agora, a nova diretoria terá que retomar as conversas do início com a PwC em um momento em que ela também está sendo ameaçada de processo nos Estados Unidos, o que a tornará mais refratária a assinar o balanço.
Pela maneira como agiu, pelo momento em que tirou Graça Foster, a presidente Dilma emitiu péssimos sinais mostrando que consegue piorar o que já estava ruim. A ideia que o governo chegou a informar aos jornalistas, de que a diretoria permaneceria demissionária até o fim do mês, é completamente estapafúrdia, como comentei ontem neste espaço. Quem pensou nisso não entende nada de vida corporativa, da realidade de uma grande empresa de capital aberto com ações no exterior, nem sequer entendeu a gravidade da crise. A Petrobras simplesmente não poderia ficar à deriva um mês. Portanto, Graça Foster fez um bem a si mesma e à Petrobras quando enviou sua demissão, porque isso impede que a empresa fique paralisada. Ela ficaria, se tivesse que ser comandada por demissionários. A petrolífera precisa funcionar.
Dado que não deu certo esse primeiro plano sem pé nem cabeça — demitir mantendo as pessoas nos cargos, enquanto se procurava outros no mercado —, o que o governo deveria ter feito é convocado ontem mesmo uma reunião extraordinária do conselho de administração.
Adianta pouco recrutar no mercado um diretor de governança para uma empresa que sempre será conduzida ao sabor da improvisação, diretamente do Palácio do Planalto. Em algum momento, o governo precisa entender que a Petrobras não é propriedade do grupo político que comanda o país. É uma empresa pública, cujo sócio controlador é o Estado brasileiro. Se entenderem a diferença entre Estado e governo vão encontrar o caminho para as boas práticas na Petrobras.
por Míriam Leitão e Alvaro Gribel
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