Barcas. Episódio triste que resultou na morte do jovem Mateus Portela, Socorro e Edilson Morais Brito. O sofrimento e a comoção atingiu toda a cidade, natural e especialmente às famílias das vítimas.
A tradição católica aliada à fé em um Deus de amor que sempre acolhe e perdoa, embasa os fiéis cristãos a entrar em oração na busca de conforto espiritual aos que ficam e a pedir que seja reservado aos mortos um lugar ao lado dos que partiram desta vida na esperança da ressurreição.
Tive a oportunidade de participar de momentos de oração do terço nas casas das duas famílias enlutadas. Dor e emoção afloram a todo o momento. Ambas sofrem demasiadamente. A celebração da Santa Missa pela passagem do sétimo dia é um momento que se espera do representante da Igreja Católica que profira palavras de esperança, conforto, amor, perdão e fé, como preconiza a própria manifestação maior no exemplo de Jesus.
No entanto, na celebração na intenção das perdas da família Morais Brito, ocorrida às 19h do
último dia 29 foi marcada pelo despreparo do celebrante. Quem participou da missa em sufrágio das almas de Socorro e Edilson Morais Brito ficou estarrecido com a desproporção e inconveniência da pregação na homilia do Padre Soares. Esperava-se ali celebrar a esperança.
O Padre não respeitou a dor dos familiares e amigos ali presentes, tampouco cumpriu o seu papel de levar a mensagem pregada pela Igreja nestes momentos delicados. Disse que “o autor dos disparos era um desesperado, estressado, refletindo na atitude de matar as pessoas e tirar a própria vida”. Complementou: “rezar não salva, não adianta terço, quem comete um erro desses não tem perdão!”.
Nesse momento, um mal estar se instalou na Igreja, os familiares se retiraram e sob prantos os
jovens filhos do casal falecido saíram para sua casa. O que precisaria/deveria ouvir um garoto de 16 anos euma adolescente de 14 numa hora dessas?
O despreparo do Padre Soares precisa ser tolhido, repudiado. Não bastasse o sofrimento pela trágica perda dos entes queridos, a família, especialmente os filhos, teve que passar mais uma vez pelo constrangimento de se publicar o ato triste que culminou com toda esta tragédia.
O reverendo deixou de cumprir o seu papel, a sua missão. Exagerou na sua contumaz estultice.
A Santa Sé recomenda aos religiosos que a Igreja Católica seja sempre acolhimento e perdão. Está
escrito: “Deus é Pai, é misericórdia, ama-nos sempre. Se o procurarmos, Ele acolhe-nos e perdoa-nos. A jubilosa experiência do filho pródigo que mesmo tendo retornado à casa do pai por interesses vis e como escravo, foi acolhido e reconstituído na própria dignidade filial. O sacerdote, enquanto servidor do mistério pascal que anuncia, celebra e comunica, é chamado a ser confessor e guia espiritual, como instrumento de Cristo”.
Mas, eis que fui à celebração do sétimo dia de Mateus Portela, lá vi o bom Pastor dirigir uma cerimônia conforme os costumes e ensinamentos Cristãos. O Padre Jurandir pregou a paz, o conforto, o sentido que a vida tem quando da passagem deste plano material à vida eterna.
Pregou que a morte não é uma realidade de desesperança, mas é um impulso final em direção a Deus. É a porta misteriosa pela qual todos passaremos rumo àquela luz inacessível onde habita Deus. É a
morte, um breve episódio para que possamos encontrar a certeza da vida eterna, almejada por todos nós e assegurada pelo nosso Deus.
Falou do ensinamento maior de Jesus Cristo: o amor! Que os cristãos devem reconhecer a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:37-39), e considerar a sua vida como um exemplo a seguir.
Duas marcas diametralmente opostas, de um lado o bom Pastor e de outro a figura da agressiva incompreensão vomitada por um porta voz da intolerância, da irrazoabilidade, da marca negativa do lado mais cruel do ser humano: o desamor! Que as feridas abertas desta tragédia possam encontrar a sua cura no que proferiu, sabiamente, o Padre Jurandir.
O julgamento do caso e suas motivações não nos cabem. Imperfeições à parte, o momento exige serenidade, compaixão e acolhimento a todas as vítimas e seus familiares. Disse Jesus: “Com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também”.
(*) Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
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