É o que pode um dia,
que espero ser breve e eu ainda esteja aqui pra ver e contar mais na frente, da
Parnaíba ter seu dia de sala de visitas do Piauí.
Porque desde que me entendo
por gente e aqui estou há vinte anos, que acompanho os altos e baixos desta
cidade. Tanto do ponto de vista econômico e social quanto do ponto de vista
político. E olhe que faz um bom tempo que acompanho este vai e vem da sala pra
cozinha. E como diz o ditado, à cozinha nunca se pede opinião.
Os governos piauienses,
bom que se diga e pra mim não há exceções,têm tratado a Parnaíba com aquele ar
de deboche, desprezo e de humilhação como dona de pensão ou de restaurante de
beira de estrada trata o pessoal do pé do fogão. Quando quer uma coisa, vem até
a porta e sem o menor constrangimento, no grito, passa a exigir este ou aquele
prato com apuro e algo mais. Agora pra trazer o que a cozinha pede, são outros
quinhentos.
Não faz, é ameaçado de
se mandado embora. Da cozinha sempre se exige acima do possível. É, segundo os
novatos, o pior lugar de um hotel, pensão ou estabelecimento do gênero. Tudo
que dá errado a culpa é da cozinha. Se o cliente acha o feijão ou o bife
salgado demais, a reclamação vai direto, assim, direto e reto feito mão na
cara, pro pessoal “lá de dentro”. É como se chama cozinha na linguagem dos
graduados e pós graduados nas ciências das panelas.
Igual naquela casa onde
o dono sai e não deixa nada. A mulher com a mão na cabeça com uma récova de
meninos, cada qual mais feio e doente e quando este ordinário volta ainda exige
certas regalias. É assim como os parnaibanos têm sido tratados pelos sucessivos
governos. Uma cozinha de quem se exige muito, mas se dá e deixa pouco. Muito
pouco tem sido dado pra nós. Como é que pode desenvolver uma terra e sua gente
que não tem um gato pra puxar pelo rabo?
Mas voltando pra
cozinha atrás de um caneco d’água me vem de novo à mente essa situação da
Parnaíba atualmente. Quando a dona da pensão quer fazer bonito na frente das
visitas ou de um cliente importante ou de burra cheia acha de dar gritos na
criadagem. É um entra e sai com isso e mais aquilo. Mas Parnaíba, essa cozinha
do Piauí na beira do Oceano Atlântico bem que merece ter seu dia de sala de
visitas.
Cadeiras e mesas
lustradas, guardanapos muito brancos e engomados, umas flores nos jarros. Igual
em casa de menino que faz a primeira comunhão. E nós estamos esperando este
momento faz um bom tempo. Estamos esperando esta ZPE assim como estamos esperando
uma resposta pra esse pesadelo centenário do porto de Amarração, os aviões da
Azul cheios de turistas, mais atividades que puxem nossa economia pra cima.
É este momento de
cozinha virar sala de visitas a que estou me referindo desde este início de
conversa. É este aceno que está vindo da cozinha do Piauí, esta cozinha na
beira do rio e perto do mar que está pedindo mais alguma coisa. Precisamos de
mais investimentos públicos pra que os investimentos privados sejam atraídos.
Precisamos que nossa cozinha seja limpa pra que o visitante se sinta bem
passando dentro dela ou até mesmo quando convidar alguém pra elogiar pelo prato
que comeu. Precisamos mandar alguém lá pra sala de visitas fazer e falar bonito
das nossas habilidades.
Tenho certeza que se um
dia desses, um momento desses, quando menos se espere, as panelas estarão na
sala de visitas. E a gente ali na frente da televisão, com os pés em cima do sofá, sem a menor cerimônia puxando conversa com
aqueles irmãos que ficaram. Igual quando agente casa e de vez em quando vai à
casa da mãe filar uma comidinha se fazendo de besta, de desentendido. É essa
desenvoltura que desejo que tenhamos nós parnaibanos um dia desses, tanto em
Teresina quanto em Brasília.
E como seria bom se um
dia desses a visita nos desse a honra de chegar até essa nossa cozinha.
Entendesse e visse nossas necessidades; um fogão novo, desses de oito bocas, um
armário pra colocar os trens, uma mesa bem maior e mais resistente, facas,
facões, cutelos, conchas, tachos, uma frigideira maior, uma chaleira bem
grandona, dessas de casa de gente ignorante. Mas o Piauí ao que parece só vai à
sua cozinha de passagem, acompanhando a dona da casa ou da pensão, sem ao menos
olhar pra criadagem que tanto se esforçou pra dar ao prato do dia aquele sabor
especial.
A gente quer agora que
a visita da dona da pensão nos veja com outros olhos. Na cozinha trabalha e até
mora gente. Gente de carne e osso. Gente que trabalha desde o raiar do dia.
Gente que, se alguém duvidar, até acorda antes do galo. Mas o dono da fazenda
tem de entender que na cozinha tem gente. É hora de levar as cadeiras da sala
pra cozinha porque é lá na cozinha que a conversa é boa. Nós parnaibanos
precisamos ser ouvidos. Essa coisa de separação, de Tia Nastácia lá e dona
Benta cá, de apartheid já acabou faz tempo.
Por: Pádua Marques