Casal de peixe-boi-marinho em Cajueiro da Praia (PI) |
De águas mornas e calmas durante a maior parte do ano, a praia de
Cajueiro da Praia (384 km de Teresina), a última dos 66 quilômetros de
litoral do Piauí, é paradisíaca, pouco explorada e a rotina dos
pescadores é esperar o melhor momento para retirar os peixes dos currais
afastados da orla ou para enfrentar o alto mar, onde existe uma maior
variedade de peixes.
O Cajueiro da Praia tem na orla um conjunto de coqueiros logo após as
areias que são banhadas pelas águas do mar. As águas do Cajueiro da
Praia são tão calmas e rasas que foram escolhidas pelo peixe-boi marinho
para viver e reproduzir, o que está sendo garantido pelo Projeto
Boi-Marinho, do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade) com
sistemático monitoramento. O Projeto Peixe-Boi Marinho foi criado em
1994, quando existiam cerca de nove animais e hoje, eles são cerca de
40.
Edvaldo Santos |
O servidor público Edvaldo Santos Nascimento trabalha há quatro anos no
Projeto Peixe-Boi Marinho como monitor dos mamíferos indo nas segundas,
quarta e sextas-feiras às 6h e voltando às 10h para o Posto Fixo do
projeto, que fica a 100 metros da orla, que fica em Cajueiro da Praia e
defronte da Praia das Almas, em Baturité, no Ceará, na divisa com o
Piauí. Com binóculos, Edvaldo Santos Nascimento diz que o comportamento
do peixe-boi é de ficar dois a cinco minutos respirando na superfície e
mergulhando em seguida.
“Seu comportamento é de subir e descer na água. Antes, faz um barulho e
joga água para cima. Eles aparecem frequentemente em dois ou sozinhos”,
declarou Edvaldo Santos Nascimento, que anota em uma planilha quando os
mamíferos aparecem, quais os movimentos que fazem e seu comportamento.
No início deste mês de março, Edvaldo Santos Nascimento conseguiu
registrar, na câmera de filmar, imagens raras de quatro peixes-boi
alimentando-se de capim agulha, muito comum na região de Cajueiro da
Praia, brincando, um ficando sobre o outro e, como é normal, subindo na
superfície para respirar e mergulhando novamente.
Edvaldo Santos fazendo observação do peixe-boi-marinho |
“Acredito que a fêmea estava no período de acasalamento”, fala. O peixe-boi se alimenta capim agulha, folhas de mangue e algas.
“O peixe-boi é parecido com o boi, seu focinho parece bastante com o do
boi, ele tem pelos e bigode como um boi e vive na água. Por isso, o
chamam de peixe-boi, mas é um mamífero que vive dentro da água e se
alimenta de capim agulha, o que é mais uma semelhança com o boi’’,
ensina o coordenador do Projeto Peixe-Boi Marinho de Cajueiro da Praia,
do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, Heleno Francisco dos
Santos.
Posto de observação do peixe-boi-marinho |
Edvaldo Santos Nascimento diz que a fêmea tem um processo de gestação de
13 meses e fica amamentando o filho por cerca de três anos, quando o
coloca sobre seu dorso ensina a respirar na superfície do mar. “Ela é
muito protetora e muitas vezes não se vê o filhote porque está debaixo
da mãe mamando”, declarou Edvaldo Nascimento.
Heleno Francisco dos Santos diz que a fêmea do peixe boi pode namorar
com vários machos, mas escolhe apenas um para copular, se reproduzir. A
fêmea só vai começar a reprodução a partir dos 7 anos de idade. Ela
escolhe um parceiro e isola o grupo de machos.
O Projeto Peixe-Boi foi iniciado no Brasil em 1980, quando foi feito um
levantamento da quantidade de peixes-boi nas regiões Norte e Nordeste,
que constatou a ocorrência no litoral do país. Hoje, Cajueiro da Praia é
considerado a área com maior concentração de peixe-boi marinho em
ambiente natural na costa brasileira.
”São bichos dóceis e como em Cajueiro da Praia tem poucas embarcações a
motor, que estão começando a aparecer agora, e 90% das embarcações têm
velas, os peixes-boi vivem tranquilos, em harmonia. É um local com
bastante alimentação e vivem sem dificuldades. Por isso, eles se
reproduzem de forma tranquila”, declarou Heleno Francisco dos Santos.
O pescador e praticante do esporte de regatas, Francisco Sousa Santos, o
Gulouro, de 35 anos, afirma que os pescadores e moradores de Cajueiro
da Praia vestiram a camisa da preservação do peixe-boi. “Todos sabem que
onde o peixe-boi vive é um lugar calmo e de boa qualidade da água do
mar e isso é bom para todos. Quando nós os avistamos contamos para o
canoeiro e o monitor que trabalham no Posto Fixo de observação”, falou
Francisco Sousa Santos.
O Projeto Peixe-Boi Marinho tem cinco pontos de observação - o Posto
Fixo do Cajueiro da Praia, da Carnaubinha, Sardinha, Barra Grande e
Ponta do Socó, informa o canoeiro e auxiliar de monitoramento do
projeto, Francisco Sales. O Posto Fixo possui 8 metros de altura e
quando a maré enche as águas do mar ficam, no máximo, com 3 metros e
meio de profundidade, mas a média é de uma profundidade de 2 metros e 60
centímetros.
Aves migratórias chega, anualmente ao Cajueiro da Praia |
Santuário ecológico
Cajueiro da Praia é o santuário ecológico das aves migratórias da
Flórida e do Canadá. No Cajueiro da Praia, o estuário dos rios Timônia e
Ubatuba é considerado uma área intacta e que não têm poluição, o que
atrai não apenas o peixe-boi que procura este ambiente ecológico
equilibrado e muitos alimentos, mas também aves migratórias como os
maçaricos, gaivotas, garças brancas e pardas, que são chamadas de azuis,
que saem de seu habitat natural, na Flórida (EUA) e Canadá para a praia
piauiense, a última antes da divisa do Piauí com o Ceará. “Cajueiro da
Praia está na rota das aves migratórias”, afirma Heleno Francisco dos
Santos, do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade. Segundo ele, chegam
em Cajueiro da Praia uma diversidade de gaivotas e maçaricos, que são
da costa da Flórida.
Heleno Francisco dos Santos conta que os maçaricos voam direto seis dias
para atravessar o Oceano Atlântico e chegar à costa. Na viagem, quando
fogem do frio em seus países de origem, os maçaricos chegam a perder
cerca de 40% de seu peso. Na praia Cajueiro da Praia, os maçaricos não
param de comer na costa os alimentos deixados nas areias pelas águas do
mar. Eles comem o que podem para acumular carne e energia e voltar para o
habitat de origem.
Canoas movidas a remo e barcos movidos a vela dão tranquilidade e silêncio |
Um dos maçaricos que perdem mais peso e conseguem recuperá-lo na costa
de Cajueiro da Praia é o pirão gordo. Eles ficam nas praias e áreas de
mangue comendo o que pode porque precisa recuperar 40% de seu peso para
voar longas distâncias.
A outra ave migratória é a fragata, que é preta e o macho tem o papo
vermelho e a fêmea tem o papo branco. “Os maçaricos tiram seis dias
diretos de viagem para chegar em Cajueiro da Praia, sem comer. Aqui, em
Cajueiro da Praia, é uma área de alimentação das aves migratórias. Elas
param aqui e se alimentam bastante porque chegam a perder 40% a 50% do
peso em uma viagem. Param, se alimentam, comem, comem, comem, pegam peso
e vão embora”, afirmou Heleno Francisco dos Santos.
Jesus Martins mora em frente ao cajueiro rei |
Cajueiro Rei: O maior cajueiro do mundo
População de Cajueiro da Praia está se mobilizando para incluir o
cajueiro da cidade como o maior do mundo. Como a população de Teresina
lutou, no Carnaval, e conseguiu incluir o Corso do Zé Pereira no Livro
dos Recordes como o maior desfile de carros enfeitados do mundo, a
população de Cajueiro da Praia, no litoral do Piauí, está se mobilizando
para incluir o cajueiro da cidade no maior do mundo, destronando o
atual detentor do título, o cajueiro de Natal (RN).
Cajueiro Rei |
“Todo mundo diz que este cajueiro é o maior do mundo. Ele é muito grande
e estão nascendo novos cajueiros das castanhas que caem. Quando a safra
é boa, o cajueiro dá muitos cajus e castanhas e todo mundo vem pegar”,
afirmou a dona de casa Jesus Martins, de 68 anos, que mora em uma casa
que fica na frente do cajueiro gigante, que ainda não tem medidas
oficiais. Jesus Martins disse que mora na frente do cajueiro há 48 anos e
quando chegou a árvore já existia e era muito grande.
Edição: Wagner Roberto | Fonte: Meio Norte
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