BRASÍLIA - Eleições, como os corações, têm razões que a própria razão desconhece. No caso da atual, porém, há aparentemente um motivo que vem se sobrepondo a tudo, insinuando-se em mentes e corações: o julgamento do mensalão.
Quando escrevi, lá atrás, que era preciso julgar seriamente o mensalão, mas não seria justo que fosse logo durante a campanha eleitoral, o leitor tucano ficou uma arara. Mas mantenho essa posição. O estrago é grande.
O PT é um partido de chegada, mas anda mal das pernas em Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte, sonhando em compensar tudo com a vitória em São Paulo. Aliás, a essa altura, chegar ao segundo turno já basta. Ou bastaria.
Não é isso o que o Datafolha de hoje indica. Ao contrário, Fernando Haddad parou de subir e o tucano José Serra não apenas parou de cair como registrou alguma recuperação, mantendo o segundo lugar e agora fora da margem de erro. Nesse ritmo, o segundo turno será entre Celso Russomanno, do PRB, que mantém a dianteira folgada, e Serra.
Lula deve estar à beira de um ataque de nervos, com o mensalão desabando na cabeça do PT, soltando estilhaços no seu governo e resvalando perigosamente nele próprio. A popularidade de 80% não dá para o gasto dos candidatos petistas nem mesmo para sua criatura Haddad.
Se Haddad vencesse, a vitória seria de Lula. Se perder, a derrota será de Lula, de Haddad e debitada --com razão, por uns, e com o coração, por outros-- ao mensalão. Não só pelo julgamento, mas pelo próprio mensalão.
A oportunidade do julgamento pode até ser injusta, mas, se nada disso tivesse acontecido, a Procuradoria não teria o que acusar, Joaquim Barbosa não teria o que comprovar, os ministros não teriam o que e quem condenar. O julgamento poderia ser antes, durante ou depois da eleição, sem tanta repercussão eleitoral.
Se não houver revertério até 7 de outubro, o PT e Lula estarão pagando pelos erros do PT e de Lula.
Folha de S.Paulo
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