Spike Lee só realizou um vídeo de Michael Jackson. E foi exatamente o de “They Don´t Care About Us”, filmado no Brasil, em Salvador e no Morro Dona Marta, no Rio de Janeiro, em 1996.
O cineasta costuma dizer que foi o trabalho mais complicado da sua vida, que precisou pedir para o chefe do tráfico do morro para garantir a segurança de Jackson.
“Essa história inspirou Cidade de Deus, sabia? Cidade de Deus não existiria sem Michael Jackson”, exagera o realizador. “Não estavam no Brasil para diversão. Trabalhávamos 15 horas por dia e quase não dormíamos.”
Mas Spike Lee decidiu falar sobre algo que se passou 10 anos antes disso, as gravações do disco “Bad”, que completou 25 anos em Agosto e resultou no documentário “Bad 25″, que é exibido hoje no Festival do Rio pela primeira vez no Brasil – a longa-metragem não sairá para o circuito, ganhando apenas edição em DVD, prevista para Fevereiro.
Lee, que tem outro filme no evento, a ficção “Verão em Red Hook”, foi chamado pela Sony para recuperar histórias da gravação do álbum que teve a missão de suceder “Thriller” (1982).
Por ser um produto encomendado sobre um dos discos mais importantes da cultura pop, “Bad 25″ preocupa-se mais em analisar as gravações e os métodos criativos de Michael Jackson na época em que ele começou a ganhar o apelido de “Wacko-Jacko”.
“Na época, Michael Jackson era o ser humano mais popular do planeta. Claro que haveria uma reacção natural a isso. Está inerente em nós. Se temos alguém no topo, queremos trazê-lo para baixo”, afirma o cineasta. “As pessoas esquecem que Michael era um homem com talento divino. E foi a minha ideia focar-me apenas na música.”
E nisso “Bad 25″ funciona muito bem. Por ter uma entrada fácil na comunidade musical – “Faça a Coisa Certa”, de Lee, ajudou a cultura hip-hop a estourar em 1989 -, o realizador consegue depoimentos de Chris Brown, Kanye West e Justin Bieber.
O documentário traz momentos interessantes, mesmo para quem só lembra deMichael Jackson pelas suas excentricidades. O melhor aparece no início, quando Leedestrincha o vídeo de “Bad” ao lado de Martin Scorsese, realizador da “curta-metragem”,como Michael Jackson chamava aos seus vídeos.
Scorsese, conhecido pela memória prodigiosa, traz revelações como a surpresa ao ver o movimento pélvico que virou assinatura de Michael e como ele foi contratado para deixar o cantor “mau”.
“Martin não via o vídeo há 25 anos e lembrou-se que havia um final alternativo”, conta Lee, que também traz detalhes, como um suposto encontro entre Michael Jackson e Prince no auge da rivalidade entre os dois, no fim dos anos 1980.
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