O ex-líder da Al Qaeda Osama Bin Laden, morto por forças especiais norte-americanas no noroeste do Paquistão em maio de 2011, chegou a ser parado pela polícia "em 2002 ou 2003" por dirigir acima do limite de velocidade.
A informação está em um relatório do governo paquistanês, vazado para a rede de TV Al Jazeera, que sugere que incompetência e negligência permitiram que Bin Laden vivesse no Paquistão despercebido por quase uma década.
O documento também revela detalhes sobre o paradeiro do líder da al Qaeda e de seu dia a dia depois que fugiu do Afeganistão, em 2001.
O Paquistão havia descartado suspeitas dos Estados Unidos de que Bin Laden vivia no país. Por isso, a descoberta de seu paradeiro, em uma casa em Abbottabad, e seu posterior assassinato em uma operação da Marinha dos EUA, acabaram causando um grande mal estar nas relações EUA-Paquistão.
O relatório é resultado das investigações da Comissão Abbottabad, criada pelo Parlamento paquistanês para verificar se houve incompetência ou conivência com a Al Qaeda no episódio. A comissão também tinha a tarefa de investigar possíveis falhas dos serviços de inteligência paquistaneses, que não detectaram a atividade da CIA em seu território na preparação para o ataque "que culminou com a humilhação evitável do povo do Paquistão".
O relatório de 336 páginas, resultado de entrevistas com mais de 200 testemunhas, incluindo altos funcionários civis e militares, bem como com as três viúvas de Bin Laden, ouvidas antes da deportação para a Arábia Saudita, foi entregue ao governo há mais de seis meses, como informa o correspondente da BBC no país, Richard Galpin, mas foi mantido em segredo.
A versão que vazou para a Al Jazeera foi criticada pelo próprio chefe da comissão, Javed Iqbal, que disse à TV paquistanesa Dunya que esta versão foi por produzida "com base em suposições" e nem sequer inclui as mais de 100 recomendações que a Comissão fez nas suas conclusões.
O relatório classifica o assassinato de Bin Laden por forças norte-americanas de "ato criminoso" ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Barak Obama.
"Humilhação"
Na versão vazada para a Al Jazeera, está documentada a vida diária de Bin Laden depois de fugir da invasão norte-americana ao Afeganistão, em 2001. O relatório detalha o estilo de vida frugal dele e de sua família, com "segurança mínima" em casa.
Bin Laden teria chegado ao Paquistão na primavera ou no verão de 2002, mantendo-se em partes do Waziristão do Sul, Bajaur, Peshawar, Swat e Haripur, antes de se estabelecer em Abbottabad, em 2005.
A esposa de um dos assessores de Bin Laden, identificada como Maryam, diz no documento que a polícia em Swat chegou a parar o veículo do líder da Al Qaeda por excesso de velocidade em 2002 ou 2003, mas não teria conseguido reconhecer o líder.
Referindo-se a Bin Laden e sua comitiva, o relatório diz: "Eles mantiveram um perfil discreto e levavam uma vida extremamente frugal. Eles nunca se expuseram ao público". De acordo com o testemunho das viúvas, Bin Laden usava um chapéu de caubói quando caminhava pelo pátio da casa, para evitar ser identificado.
O relatório diz ser "inacreditável" que os serviços de inteligência, a vizinhança, as autoridades locais e a polícia não notaram "o tamanho [da casa], o arame farpado e a falta de carros e visitantes durante um período de quase seis anos".
Negligência
Os documentos vazados criticam ferozmente governo e militares do Paquistão, identificando "negligência e incompetência em quase todos os níveis."
Embora a comissão afirme não ter encontrado nada para apoiar as alegações de cumplicidade, o relatório não descarta "a possibilidade de um certo grau de conivência dentro ou fora do governo".
O relatório também expressou duras críticas ao ataque de forças especiais da Marinha americana em Abbottabad, descrevendo-o como um "ato de guerra americano" e "a maior humilhação" do Paquistão desde a separação de Bangladesh — até então parte oriental do Paquistão — em 1971. De acordo com o documento, jatos do Paquistão foram acionados para abater os helicópteros norte-americanos usados na operação, mas tarde demais.
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