segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Piauí perde oportunidades de projeção por falta de criatividade.


Vou usar uma linguagem de senzala, aproveitando a onda das comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra, pra tratar de uma coisa que julgo da maior importância pra o Piauí neste momento: vou mexer no cozido enquanto a panela ainda está quente. Faz pouco menos de quinze dias que aqui na Parnaíba foi realizado pela primeira vez o Salão Internacional do Humor, evento grandioso, importante, do mais alto nível cultural e economicamente falando, turístico. Evento que desde o início deveria ter sido apoiado pelos sucessivos governos.
Ocorre aqui fazer algumas considerações sobre esta iniciativa do Alberto Piauhy em trazer o evento da capital Teresina pra essa ponta do mapa piauiense à beira do Oceano Atlântico aonde faz tempo o governo tenta concluir um porto que teve começo e ao que parece não terá fim. O evento tem um nome pomposo, Salão Internacional do Humor do Piauí, na sua trigésima edição. Ao que parece a coisa não vinha recebendo o merecido apoio na capital e seu obstinado fundador e organizador achou de achar que Parnaíba seria o porto seguro.
Acontece que quem é vivo e calejado sabe que um evento desse porte, e todo mundo que esteve na praça Mandu Ladino viu, requer uma linha de recursos financeiros, logísticas e parcerias pra se realizar e a praça empresarial de Parnaíba é mais segura com dinheiro do que sacristão com saco de esmola de missa, mais desconfiada que nem matuto contando moeda em estação de trem ou aposentado guardando dinheiro. Vi o Albert pedindo ao prefeito Florentino Neto que da próxima vez, já prometida pra o ano que vem, que fale com esses donos de supermercados, lojas de artigos importados, revendedores de carros e motocicletas, postos de gasolina.
Que Florentino convença, pelo amor de Deus, esses homens de que, patrocínios e apoios a eventos desse porte podem ser abatidos na declaração de imposto de renda ou algo parecido. Que o prefeito parnaibano, tão solícito e presente em tantos e todos os eventos, meta na cabeça dura desses homens que um salão desses, traz divisas, abre oportunidade de negócios, transforma a região num potencial turístico e é muito bom pra produtos e serviços. Mas ao que parece o Albert Piauhy não andou tendo muita sorte dessa primeira vez entre os empresários parnaibanos. Ou então esteve falando o tempo todo em javanês.
Tenho certeza, tão certa de quem um dia vai morrer que o Albert Piauy deve ter ouvido muito dos empresários de Parnaíba coisa do tipo: “o chefe tá viajando e só com ele”, “volte depois”, “tem não”, “as vendas estão dando mal pra pagar os funcionários”, “esse mês não entrou nada”, “isso é lá com a prefeitura e o governo”, “esse negócio é com o filho dele” e por aí vai. O pobre deve ter se sentido a pior das criaturas naquele deserto de ignorância e vendo que as portas ao que parece se fechavam todas à mesma hora.  
Mas se faltou como sempre falta conhecimento e ousadia aos empresários parnaibanos pra situações desse porte em apoiar ou patrocinar um evento que traria dividendos à pobre economia piauiense em Parnaíba, outra ausência foi notada, pelo menos por mim: a dos estudantes, principalmente aqueles do curso de Turismo. Vi poucos, pouquíssimos mesmo. Estavam lá como turistas, não como alunos de um curso que tinha e tem tudo a ver com o evento. Perderam uma oportunidade e tanto em aprender a trabalhar com a cultura sendo combustível pra a atividade que eles pretendem ter como profissão.
Mas onde estavam estes estudantes de turismo e outros dos cursos de letras, pedagogia, direito, história, por exemplo, naqueles cinco dias do Salão Internacional do Humor do Piauí, na praça Mandu Ladino? Estavam alegres e cheios de prosa em rodadas de cerveja, cada um jogando com um celular de última geração e falando bobagens a alguns quilômetros de distância, na sempre efervescente avenida São Sebastião. Mal se deram conta de que perderam uma oportunidade única de estarem convivendo com os maiores cartunistas e chargistas, escritores, jornalistas e outras categorias intelectuais, inclusive de outros países.
O certo mesmo é que o 30º Salão Internacional do Humor do Piauí, evento que somente tem igual em Piracicaba, São Paulo, veio pra Parnaíba correndo atrás de patrocínio e apoio, tanto empresarial quanto de seus estudantes e dos veículos de comunicação. Recebeu a promessa de que, ano que vem a prefeitura será mais presente com a logística. Mas em relação à classe empresarial voltou com as mãos abanando. Não poderia ter sido diferente. Admirava era se tivesse saído alguma coisa da burra desses homens. Quanto aos estudantes, estes deram as costas e assim mais uma vez um evento que foi feito pra eles e com a cara deles acabou dando pena de ver.

E vendo o mau resultado da presença de público no Salão Internacional do Humor do Piauí nesta primeira vez em Parnaíba me ocorre lembrar um dito entre uns parnaibanos que conhecem esta cidade e seus cantos escuros: quando você vê um artista, seja lá de que categoria que seja vindo fazer temporada nesta cidade, pode esperar que ele está em fim de carreira! É uma pena e não deveria ser assim. Bem que eu particularmente desejo que este evento recente do salão seja o início de um novo tempo e não o seu, como se dizia entre gente letrada, o seu canto do cisne. 

Pádua Marques
Jornalista e Escritor

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