Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo. Só no Distrito Federal, o número de óbitos pelo ato cresceu 56,96% entre 2001 e 2013, quando foram registradas 124 mortes. A estatística vem crescendo a galope, com aumento principalmente entre jovens — o total de suicídios de brasileiros entre 15 e 29 anos cresceu quase 10% entre 2012 e 2017, segundo o Mapa da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
“Notamos ainda um aumento considerável, no país e no mundo, do comportamento suicida entre jovens e adolescentes, com motivações complexas, podendo incluir humor depressivo, uso de substâncias psicoativas, rejeição familiar, negligência, entre outros. É uma emergência médica”, afirma o psiquiatra Antônio Geraldo, coordenador da campanha Setembro Amarelo, que propõe a discussão, durante o mês, de como prevenir o ato. De acordo com especialistas, é possível evitá-lo cerca de 90% das vezes.
Ainda de acordo com a OMS, mais de 95% dos casos de suicídio estão associados a distúrbios mentais — 36% tem transtornos de humor, como depressão, e 15% dos pacientes de transtorno bipolar se matam —, e muitos deles não são diagnosticados ou tratados de forma adequada. Cerca de 60% nunca se consultou com um profissional de saúde mental.
Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) afirma ainda que um em cada cinco pacientes que tentaram suicídio passaram por uma consulta médica um mês antes do episódio. “Muitas vezes, quem está em contato com esse paciente é o clínico geral, ou o ginecologista, o cardiologista. Por isso, é preciso fortalecer as discussões sobre o ato e vencer esse tabu em todas as esferas sociais: profissionais de saúde à sociedade em geral, incluindo familiares e amigos, também podem ter papel fundamental no acolhimento e na prevenção do problema”, conta Eurico Correia, diretor médico da Pfizer. Junto ao Centro de Valorização da Vida (CVV), a instituição faz campanha para os pacientes falarem sobre seus sentimentos.
Os sinais e como ajudar
Segundo Leila, voluntária do CVV e porta-voz do grupo em Brasília, ainda existe um tabu muito grande ao falar sobre suicídio: a pessoa não se sente confortável para conversar, teme ser julgada, recriminada ou que a família ache “mimimi”.
Segundo Leila, voluntária do CVV e porta-voz do grupo em Brasília, ainda existe um tabu muito grande ao falar sobre suicídio: a pessoa não se sente confortável para conversar, teme ser julgada, recriminada ou que a família ache “mimimi”.
Normalmente não se fala sobre suicídio por simplesmente não saber como levantar o assunto sem assustar o interlocutor. “Quem está próximo deve ficar atento se a pessoa está se isolando, se tem algum comportamento diferente, apresenta problemas com a alimentação e deixa de comparecer a atividades sociais que gostava. São pequenos sinais, não necessariamente vão levar à morte, mas indicam que a pessoa precisa de ajuda e não sabe como pedir”, explica Leila.
A analogia utilizada pela voluntária do CVV é de que uma pessoa pensando em se matar é como uma panela de pressão. Sofre pressões externas (a família não a entende, o estresse do trabalho, dívidas) e internas (sentimento de não pertencer, se menosprezar, não se achar importante), todas ao mesmo tempo. Conversar com honestidade sobre as emoções seria o equivalente a tirar a pressão da panela, evitando sua explosão.
“É preciso conversar abertamente, dialogar, falar sobre as emoções de forma segura, sem ameaça. Outra dica é garantir o sigilo: é preciso poder falar sem ter medo de a notícia se espalhar. E jamais reprimir. Nossa tendência neste mundo corrido é, quando alguém começa a expor seus problemas, logo dizemos que a pessoa tem tudo ou começamos a falar sobre nós mesmo, impedindo o outro de se expressar”, conta Leila. É preciso ouvir sem bloquear, sem julgar, com empatia e mostrando solidariedade, acompanhando de verdade. “Às vezes alguém revela que está muito mal e a gente se assusta”, completa.
A ajuda médica também é importante, mas o ideal é não ser imposta. O paciente deve entender que precisa de atendimento especializado e, para isso, a família e amigos podem sugerir procurar um profissional e seguir o tratamento à risca.
“O CVV funciona como um pronto socorro emocional para quando a pessoa não tem a quem recorrer, com quem conversar. Esperamos fortalecer cada um por meio da fala, sem aconselhar, mas escutando com respeito, aceitação, compreensão e confiança”, explica a voluntária.
O CVVO Centro de Valorização da Vida presta apoio emocional gratuitamente 24 horas por dia, de forma anônima e sigilosa. Os atendimentos podem ser feitos por telefone, e-mail, Skype, chat, ou pessoalmente. Em Brasília, o posto de atendimento funciona no Setor de Rádio e TV Norte Quadra 702, Edifício Brasília Rádio Center, sobreloja 5. O atendimento é feito gratuitamente pelo telefone 188.
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