Com Lula afinal e oficialmente fora do páreo, apesar dos recursos e recursos e recursos, sobrou para o PT um bom abacaxi para descascar. A um mês do primeiro turno, o partido tem de convencer o segmento menos ideologizado de seus eleitores de que o ex-prefeito Fernando Haddad (ou “Andrade”, conforme o registro que se disseminou em parte do Nordeste) é praticamente um Lula sem barba. A empreitada já seria difícil se a afirmação fosse verdadeira. E fica ainda mais complicada quando se sabe que nada poderia ser mais falso.
E não é falso apenas porque Haddad – professor universitário, bacharel em direito, mestre em economia, doutor em filosofia – considera adequado abrir um comício dizendo para as multidões que sua campanha “representa a antítese do status quo”. Mas é falso também porque, considerado pelo próprio partido o mais tucano dos petistas, o ex-prefeito de São Paulo, que deve sagrar-se cabeça de chapa de seu partido na próxima semana, é conhecido na sigla por sua pouca afinidade com movimentos sociais e uma queda por ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem já elogiou publicamente mais de uma vez. Mas isso está mudando. Desde que abraçou a ideia de suceder o ex-presidente Lula na campanha, Fernando Haddad está se deixando transformar.
No último dia 20, em reunião do conselho político do PT, formado por dirigentes e intelectuais alinhados ao partido, em São Paulo, o ex-prefeito foi instado – e aceitou – assumir o compromisso de, caso eleito, fazer um “governo coletivo”. Na prática, isso significa “comprar” com a porteira fechada o programa do partido. Estavam presentes ao encontro a cúpula do PT e os chamados ideólogos da sigla, como o ex-chanceler Celso Amorim e o escritor Fernando Morais. Haddad também foi aconselhado por eles a buscar aproximação com os movimentos sociais, centrais sindicais e representantes religiosos – gestos fundamentais para ganhar o apoio da base petista, sem a qual ele não teria condições de prosperar na campanha. A mensagem, nas entrelinhas, era que, como estreante no pleito e segunda opção de Lula (a primeira era o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, que declinou da oferta), ele deveria ter a humildade de se deixar instruir pelo partido. Ficou claro que o menor sinal de empenho em um projeto pessoal seria interpretado como uma traição.veja Mais
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