quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sem salário, elenco do Tubarão apela para agiotas, empréstimos e amigos



No vermelho, Parnahyba não paga elenco desde a conquista do título do Campeonato Piauiense. Sem dinheiro, atletas se viram como podem.


Empréstimos com agiota, cheques sem fundo, dependência da família, ajuda de amigos, sem dinheiro para pagamento das dívidas e atividades do dia-a-dia, como alimentação. Frustrações e revolta. Este tem sido o cotidiano dos jogadores do Parnahyba, que estão com salários atrasados, em média, há três meses, desde a época da conquista do título estadual deste ano. O clube piauiense completa em 2013 o seu centenário e participará da Copa do Brasil. Comemoração para os torcedores, mas não há motivo de festa para os jogadores. Pelo contrário, o final de ano virou motivo de decepção.
Elenco que disputou a Copa Piauí 2012 pelo Parnahyba e não recebeu salários (Foto: Renneé C. Fontenele)

Longe das volumosas cifras, que pagam o salário das estrelas do futebol brasileiro nas grandes equipes do país, o elenco do Tubarão aguarda um telefonema, à espera apenas de uma frase: “O dinheiro está na conta”. Contudo, a boa notícia tem demorado a sair. O telefone não toca. As promessas de pagamento são proteladas. Pode sair na segunda, terça, quarta... Enfim, sem data definida. Com isso, a paciência dos jogadores pela resolução do pagamento chegou ao seu limite.

A situação fez com que os jogadores abandonassem os treinamentos. Muitos tiveram que buscar outra forma de ganhar dinheiro, participando de campeonatos amadores nos estados do Ceará e do Maranhão. O ‘bico’ vale de R$ 200 a R$ 300. Uma ajuda dos céus para quem tem R$ 5 mil de salários atrasados no Parnahyba. Outros recorrem às economias para pagar as contas em débitos. Sem dinheiro, há caso de jogadores que receberam cesta básica de amigos para ajudar na renda doméstica.

- Graças a Deus tenho família e eles estão me ajudando. Não tenho filhos, mas tem jogadores que estão passando por dificuldades. Há caso de jogador que vendeu o celular para comprar comida para sua filha. Como pagar a mensalidade das escolas, sem nenhum dinheiro? Para aqueles que possuem situação humilde, a barra está pesada. Imagina ter que pagar cartão de crédito com três meses em atraso? Somos empregados do Parnahyba – desabafa Damisson, meio-campo do Tubarão.


Gilmar Bahia, em ação pelo Parnahyba em 2012
(Foto: Thiago Amaral)

Os problemas financeiros no Parnahyba começaram após problemas no convênio entre a Prefeitura Municipal de Parnaíba e o clube. Sem dinheiro, o Tubarão não teve como pagar os jogadores. O Estádio Petrônio Portela, que é de responsabilidade do clube, chegou a ter a energia cortada.

- É uma situação complicada. Quem vive do futebol conta no final do mês com seu salário, assim como todo e qualquer profissional. Quem trabalha, quer dinheiro. Entre os jogadores existe harmonia e a amizade é normal. Mas chega uma hora que tudo isso desanima – fala Gilmar Bahia, zagueiro do Parnahyba, desde 2009 no clube.

Novos caminhos

Enquanto aguarda a definição, o zagueiro Pedro, aos 21 anos, opta por outros caminhos longe do futebol. Saindo das categorias de base do Parnahyba, o jogador já faz um preparatório para o vestibular. Quem paga a mensalidade é seu pai, que entrou em contato com o diretor do colégio para conseguir uma vaga para o filho.

- Desde que acabou a Copa Piauí (em outubro) o meu pai buscou algo para eu não ficar parado. Pela manhã, treino por conta própria. À noite, vou para o cursinho. Espero que esta situação se resolva, ou então temos que dar um jeito de mudar de vida e procurar outra coisa longe do futebol – narra Pedro.


Luciano, volante e um dos líderes do elenco do
Parnahyba (Foto: Bergson Pessoa)

Insustentável. Para o volante Luciano, a crise do Tubarão ultrapassa o bom senso. São os familiares que ajudam o atleta a se manter durante os cinco meses sem receber. Chateado com o problema, os planos para as festividades do Natal e Ano Novo foram cancelados.

- Não posso nem fazer nada, apenas pagar as contas para poder limpar meu nome. É uma chateação sem tamanho, que me deixa triste e desanimado. É uma falta de respeito e humanidade. Tem alguns jogadores que até abandonaram o clube – lamenta Luciano, que aos 32 anos de idade é um dos mais experientes do time.

Sondagens de outros clubes

Com dificuldades financeiras, jogadores do Parnahyba vivenciam o assédio de outros clubes do Nordeste. A situação não poupou nem o destaque do time em 2012. O atacante Fabinho crê ainda em uma solução. Apesar da crise, a esperança de que um dia o dinheiro esteja na conta mobiliza o elenco do Parnahyba a continuar aguardando.

- Não podemos falar em contratação ou renovação do contrato. Gosto muito da cidade e conquistei várias amizades. O que eu quero é que resolva. Infelizmente, temos que aguardar – avalia Gilmar Bahia, com propostas de times da Paraíba e do Rio de Janeiro.

A mesma posição é do volante Damisson. Segundo o jogador, houve desvalorização do elenco que conquistou o Campeonato Piauiense.

- Pretendemos ficar em Parnaíba. Achamos que após o título existiria uma valorização da base campeã. Porém, os jogadores estão passando por dificuldade, principalmente os mais humildes. Toda a paciência tem limite, mas a nossa já acabou. Este problema deve prejudicar o time na próxima temporada – assinala Damisson, que admite sondagens de clubes do Ceará.


Alessandro (Foto: Gil Galvão)

Aguardando o pagamento de cerca de R$ 10 mil, o volante Alessandro segue o caminho inverso dos companheiros e já possui acordo com outro clube para o próximo ano. O local ainda é segredo, mas o destino é longe do Parnahyba. O atraso de quatro meses interferiu na decisão.

- O que eu tinha de dinheiro guardado já se foi. Minha sogra que está ajudando nas despesas de casa através da venda de artesanatos. Minha esposa está desempregada. A situação não é de dificuldade, pois sempre conseguimos viver independente das condições. Agora, se esse dinheiro estivesse conosco, estaríamos com uma situação estabilizada. Acredito que o clube tem como resolver essa situação – revela Alessandro.

Sem desculpas e nem solução


Batista, gerente de futebol do Tubarão (Foto: Divulgação)

A grave crise financeira desanima até mesmo os dirigentes do Parnahyba. Sem dinheiro no caixa, o clube não sabe como pagar jogadores e comissão técnica. O atraso dos salários dos jogadores ultrapassa os R$ 150 mil, de acordo com as contas da diretoria. Sem uma luz no final do túnel, a participação no Campeonato Piauiense está ameaçada.

- Se esse dinheiro com a Prefeitura não sair, vamos ter que acabar saindo do campeonato estadual. A participação ficará inviável. Infelizmente, o centenário ficará prejudicado. Essa é a nossa realidade. A cada dia que passa as cobranças aumentam – comenta Batista Filho, gerente de futebol do Parnahyba, acrescentando que uma reunião com todos os diretores do Tubarão deve acontecer até o fim desta semana para acerto da situação da equipe na temporada 2013

Por Josiel MartinsTeresina
GLOBOESPORTE.COM

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Esses comentários não refletem a opinião do Blogueiro.

Postagem em destaque

Deputada Gracinha diz que grupo Mão Santa decidiu nome para sucessão em conjunto

  Segundo a parlamentar, o grupo tinha o objetivo de escolher um nome que representasse e compreendesse o modelo de gestão que se mostrou ex...