quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Masturbação feminina ainda é tabu? Ah, SE TOCA

É uma tremenda ironia que a mulherada fique "cheia de dedos" para falar sobre siririca, ao invés de usá-los com orgulho em busca do prazer solitário. O pudor está, antes de tudo, nas palavras: masturbação agora é chamada de autoerotismo por estudiosos. Isso porque, em pleno século XXI, ainda há quem considere o comportamento como algo sujo e inadequado e proibido. Enquanto os homens já estão com L.E.R. (lesão por esforço repetitivo) nas mãos, nós nos deixamos censurar. Um bom exemplo rolou na semana passada, quando a marca de lingerie Duloren lançou a campanha "Eu me amo".
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Na ~ousada~ peça publicitária, a modelo insinua dois dedos por baixo da calcinha de renda. Gente chocada criticou nas redes sociais tamanha "vulgaridade" - li comentários sugerindo ao CONAR, órgão regulador da propaganda, que proíba sua veiculação. A vasta maioria dos internautas, para meu alívio, aplaudiu a iniciativa e lembrou como somos hipócritas. Por que a imagem de uma mulher explorando o próprio corpo escandaliza as pessoas, mas um outdoor provocante como esse da marca de cuecas Mash não causa tanto desconforto? Porque a gente vê (e pratica) o sexo com muito mais naturalidade do que a masturbação.
O que ME CHOCA é saber que 53% das brasileiras solteiras entre 18 e 25 anos jamais tocaram uma siririca. Os dados são da pesquisa Mosaico Brasil, conduzida pela psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade da USP. Foram entrevistadas mais de oito mil pessoas. Apenas 4,2% dos homens na mesma faixa etária e estado civil responderam "nunca bati punheta". Isso significa que eles se tocam TREZE VEZES MAIS do que nós - portanto, muito provavelmente, estão tendo bem mais orgasmos. Cadê manifestação nas ruas contra essa desigualdade de gênero? Eu levo os cartazes #vemprarua #setocanua #ogozoéseu.
Recebo e-mails de mulheres que tem vergonha de sequer olhar a vagina (aliás, vocês viram esse vídeo?), que não sabem onde fica o clitóris ou para que serve aquele botãozinho no alto da vulva, que suam de nojo com a ideia de botar o dedo ali. Elas não sabem do que gostam, como gostam, onde gostam. Uma leitora do meu blog contou sobre sua "técnica" de cruzar as pernas e se balançar para sentir "tremeliques gostosos" por alguns segundos. Outras dezenas reclamam de fingir orgasmos, sem nunca tê-los experimentado de verdade, para agradar o parceiro. Nos chás de lingerie que realizo, as convidadas perguntam sem pudores sobre sexo oral e anal, mas coram inteiras quando falo sobre a importância da masturbação.
Incrível como, para nós, o ato de se tocar é carregado de contextos culturais, históricos, morais e religiosos. As meninas nascem com uma ~misteriosa~ genitália voltada para dentro, crescem ouvindo "tira a mão daí, que coisa feia!", são educadas para casar e cuidar da família - não para ter prazer. Já os meninos brincam e coçam o pênis desde muito cedo, manuseiam-no o tempo todo para fazer xixi, ganham revistas e se trancam no banheiro, consomem pornografia com ou sem namorada(o).Eles têm intimidade com eles mesmos. Do outro lado, ginecologistas contam da dificuldade de algumas pacientes em passar um creme vaginal, colocar uma camisinha feminina ou um absorvente interno.
Outra pesquisa, desta vez realizada pela Universidade de Indiana com mais de 5 mil participantes, mostrou que a maioria das mulheres não se masturba há pelo menos um ano. Em comparação, os caras fazem isso algumas vezes por mês ou semana. Uma sexualidade saudável e satisfatória depende muito de entender como o nosso organismo reage aos estímulos - e ensinar esse beabá ao(s) outro(s). A boa notícia é que punheta ou siririca independem de estado civil! Solteiros(as) se divertem sem precisar de ninguém, casados(as) até reanimam a libido adormecida. Por favor, SE TOCA, nos dois sentidos. Você é dona do seu prazer.

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