O vazamento de prints de um duro diálogo travado entre o prefeito do município de Ribeiro Gonçalves, Lindenberg Vieira, do PT, ‘dispensando’ os trabalhos de uma médica do programa federal Mais Médicos, de nome Samália, que atua na cidade, acabou por criar celeuma em grupos de profissionais da área de saúde. Uns dizem que o gestor está 'forçando a barra' para que a médica abandone o programa federal.
Lindenberg, que também é médico, havia dito, via WhatsApp, que não tinha mais interesses no serviço da profissional. “Não precisa mais vc ir pra o posto agora à tarde, já pedi pra o Gean [Secretário de Saúde] informar que não temos mais interesses nos seus serviços”, tascou.
Afirmou, inclusive, que o secretário já estaria tratando com Cassandra, que seria coordenadora do Programa Mais Médicos na região. Ainda, que iria providenciar um valor “em aberto” no hospital. O pagamento por supostos serviços.
A médica, ainda chegou a indagar o que estava a ocorrer: “Oi? O que houve? Não estou entendendo essa conversa”. “Mas o que tem a ver com o postinho [de saúde]?”. Entre as muitas argumentações a profissional diz que “não lembra de ter recebido alguma advertência”.
Também que só deixará “o postinho com justificativa do governo federal”.
“NÃO VÁ PARA O POSTO”
Ao ver o tom do diálogo, o prefeito petista chegou a dizer “Dra, a senhora não vá pra o posto, não temos mais interesses nos seus serviços”. No que a médica enfrentou: “Irei”. “Por favor, não complica a coisas”, pediu o gestor.
O pedido serviu para a médica dizer: “Quem está complicando é o senhor”. E ameaçar: “Se me prejudicar, vou usar o que tenho. Qual o problema?”.
“VOCÊ NÃO É CRIANÇA”
O prefeito Lindenberg Vieira advertiu: “Bom vc não é criança”. A médica voltou a realçar que “sem advertência não perco meu cargo”. “E sem enfermeira formada o hospital fecha. Aguardo correspondência oficial do governo federal. Enquanto isso trabalharei normalmente. Passar bem”, emendou a médica.
_____
“QUEM DEMITE É BOLSONARO”
Procurado, o gestor enumerou três causas para a dispensa. A médica não seria assídua (“chegaria de 1 hora a 1 hora e 30 atrasada”), atenderia mal às pessoas (“se recusa a atender gestante”, “a atender criança da zona rural” e “até idoso”, “quem não é do bairro dela ela não atende”). Além do que seria “instável emocionalmente”.
Indagado o porquê de não existir, com base no diálogo constante nos prints, a menção a nenhum processo prévio ou reclamação prévia contra a médica, o gestor disse que o caso foi comunicado à coordenadora do Programa Mais Médico.
Indagado por que o gestor municipal estava a dispensar os serviços de uma médica de um programa do governo federal, o gestor disse que apenas pediu que ela "ficasse em casa ou no hotel da cidade" aguardando o desenrolar dos fatos para seu desligamento, mas que “quem demite é Jair Bolsonaro”, o presidente da República. “Ela só não tem o perfil [para o cargo]”, acresceu.
O gestor ainda disse ter reputação “ilibada” e enviou algumas mensagens de apoiadores, ao tratarem sobre o caso. “Decisão sensata, Dr. Lindenberg! Nós o conhecemos muito bem e o colega tem reputação irretocável e predicados para admoestar essa colega indolente com vícios indeléveis! Parabéns pela sua conduta cortez e elegante”, diz uma delas.
Quando do contato inicial da reportagem o prefeito chegou a dizer que iria “ficar rico, porque depois de toda essa exposição, a indenização será generosa”. Em outra ocasião disse que a médica, “provavelmente, teria se formado em uma faculdade bem ruim”.
Segundo o próprio líder do Executivo municipal, a médica trabalharia no município desde o ano de 2017. Ou seja, há cerca de dois anos. Não haveria, no entanto, registros de reclamações contra ela nesse período.
Sobre os diálogos dos prints, Lindenberg falou “não ter nada demais” e que tudo não passava de “um mal entendido”.
A médica não foi encontrada para responder às afirmações do gestor. Mas pode se manifestar, logicamente: jornalistaromulorocha@uol.com.br.
Por Romulo Rocha/180graus
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Esses comentários não refletem a opinião do Blogueiro.