quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Policiais se vestiram de mulher para fugir da morte nas mãos do Estado Islâmico.

 

Quando o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI) assumiu o controle de uma cidade perto de Mosul, no norte do Iraque, e começou a matar policiais, alguns deles apelaram para medidas surpreendentes para sobreviver, como conta o repórter John Beck:
Um niqab, o véu usado por algumas muçulmanas e que deixa apenas os olhos à mostra, salvou a vida de Abu Alawi.
Durante mais de dois anos e meio, a vestimenta ajudou o ex-policial de meia idade a se esconder do Estado Islâmico e ter um destino diferente de quase todos os seus colegas, que foram mortos a tiros ou facadas pelos militantes do grupo.
Quando o EI chegou em sua cidade, Hamman al-Alil, em 2014, enquanto avançava pelo norte do Iraque, a primeira coisa que os extremistas fizeram foi reunir os policiais e militares do Exército.
Os que ocupavam posições mais altas na hierarquia foram mortos imediatamente. Os outros acabaram recebendo uma espécie de anistia: se renunciassem ao governo de Bagdá e prometessem ver de acordo com as regras do grupo, seriam poupados.
Abu Alawi preferiu se esconder. Primeiro em casa, em uma espécie de toca que fez em seu jardim. Mas o EI começou a fazer buscas mais cuidadosas e ele percebeu que teria que sair dali.
Foi então que Alawi decidiu usar o niqab, o véu que o próprio EI obriga todas as mulheres em seus territórios a usar.
A partir daí, todas as vezes que algum amigo o alertava de uma busca, o ex-policial escondia o corpo, rosto e o bigode embaixo do véu e ia para algum lugar mais seguro, disfarçado de mulher.
Alawi lembra que sentia certa adrenalina enquanto “jogava” com o EI, mas que, quando passava perto dos militantes do grupo em seus uniformes pretos, a situação perdia a “graça”.
Ele temia ser preso, assim como seus colegas que tentaram usar esse tipo de disfarce em outras ocasiões, mas não tiveram tanta sorte ou não foram tão convincentes.
“Eles (os homens do Estado Islâmico) estavam muito perto várias vezes, e eu sentia um medo enorme. O tempo todo pensava que seria revistado e descoberto”, conta o ex-policial, fazendo um gesto para mostrar o coração pulando no peito.

Antiga cidade turística

Hamman al-Alil era uma cidade turística, famosa por suas fontes de águas termais. Mas agora é difícil imaginar turistas visitando a cidade.
A reportagem da BBC encontrou Alawi em uma manhã de inverno úmida e gelada enquanto ele esperava pela distribuição de cobertores e aquecedores solares doados por uma ONG dinamarquesa.
Homens e mulheres estavam em filas separadas, esperando pacientemente.
Alawi conta que, depois que o EI chegou à região, os combatentes reuniram os ex-oficiais na praça principal, colocaram vendas em seus olhos, empurraram os homens para caminhões e os levaram para fora da cidade, onde eles foram mortos a tiros ou decapitados.
A polícia federal levou a BBC a uma vala comum. Lá, o cheiro horrível era o primeiro sinal do que tinha acontecido. A área era um campo de tiro da polícia, mas agora também é um depósito de lixo.
Nuvens de moscas se movem em meio ao lixo comum, de brinquedos quebrados a embalagens de comida. Mas no meio disso é possível ver os restos decompostos de um homem – com mãos e pernas amarrados e sinais de tortura.
“Aqui embaixo só tem cadáver”, conta o nosso acompanhante, fazendo um gesto em direção a uma série de trincheiras rasas cobertas com terra revirada. Ele estima que há 350 pessoas enterradas no local.
O nosso guia também alerta para a presença bombas escondidas na área.

Documentos no jardim

Outro homem na fila de distribuição de ajuda é Abu Ali, mais jovem, mais alto e mais magro de Abu Alawi. Ele mostra seu antigo crachá da polícia.
Ali enterrou o documento no jardim de casa enquanto o EI estava na região e também sobreviveu ao massacre em parte graças a um niqab.
“Tudo o que fiz foi me esconder, esconder (repete) e usar um véu desse jeito”, explica Ali, se curvando para diminuir sua altura.
O irmão dele, também policial, foi executado, deixando a esposa e sete filhos. Quando o EI saiu de Hamman al-Alil, levou a Mosul o pai dele, para que fosse usado como escudo humano.
Essa história não é uma raridade. Todos que conversaram com a BBC na cidade perderam alguém, em alguns casos famílias inteiras se foram.
Um integrante de milícia de cerca de 20 anos diz que o EI matou seus pais e matou ou capturou sete de seus irmãos.

Recomeço

Apesar disso, a vida parece começar a voltar ao normal na cidade.
Nas antigas fontes termais perto do histórico rio Tigre, em ruínas depois da passagem dos extremistas, crianças sorridentes e soldados brincam nas águas quentes.
Outros coletam em garrafas a lama esverdeada, rica em minerais, fazendo propaganda de suas propriedades terapêuticas.
Pode ser o começo de um processo de cura para Hamman al-Alil, mas as cicatrizes da ocupação pelo Estado Islâmico ainda vão continuar por um bom tempo.
Fonte : noticias.uol.com.br

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