quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Não deixei pior ocorrer, diz pai que passou por filha para prender pedófilo

Reprodução de conversa via rede social com suposto pedófilo
"Fico aliviado porque não deixei o pior acontecer", disse o empresário Daniel da Silva Ferraz, 34, ao descrever a sensação com que ficou após o desfecho do caso no qual ele se passou pela filha de nove anos, em página de rede social, para ajudar a polícia a prender um homem suspeito de pedofilia.
O acusado foi capturado na última quarta-feira (12) por policiais civis, no momento em que se preparava para se encontrar com a menina, em uma padaria da cidade de Juiz de Fora (a 278 km de Belo Horizonte).
"Como pai, eu me sinto realizado por ter impedido uma possível violência contra uma criança. Como cidadão, eu fico também realizado por ter ajudado outros pais a ficarem alertas com a internet."
Segundo Ferraz, a história começou há um mês e meio, quando ele percebeu que a filha começou a ser contatada por meio da página dela no Facebook.
"O primeiro contato dele com ela foi no dia 29 de junho. Eu tinha a rotina de, uma vez por semana, entrar na página do Facebook dela e ver com quem ela falava. Até então, ela só conversava com parentes e coleguinhas de escola", afirmou.
Ferraz disse ter desconfiado que tinha algo estranho porque o suspeito elogiou o corpo da filha. "Não tinha nenhuma foto insinuante. Eram fotos de cotidiano de criança, fotos infantis. Eu cliquei no perfil dele e vi que havia apenas uma foto do Batman [usada como avatar]. Outra coisa que me chamou a atenção foi que as amizades dele, a maioria, eram com meninas que aparentavam a mesma idade da minha filha", descreveu.
Após o sinal de alerta ligado, o empresário afirmou que passou a monitorar o caso e começou a se relacionar com o suspeito se passando pela filha.
"Quando eu percebi que podia ser um tarado, eu alterei a senha dela e, de lá para cá, assumi todas as mensagens como se fosse ela. Passei a deixar o Facebook dela online no meu celular e tomei o cuidado de só responder as mensagens dele em horário que não fosse coincidente com o da aula dela", disse.
O pai da menina disse ter se valido de uma escrita que se aproximasse da usada pela filha na rede social e que não se apressava para digitar.
"Eu usava muitas carinhas [emojis], frases curtas e até escritas de maneira errada. Também demorava para digitar e não usava acentuação", declarou.
Ferraz disse que o suspeito, ao ter a confiança de que estaria falando com a criança, passou a questioná-la sobre a rotina dos pais dela e também a fazer declarações de amor. "Ele mesclava perguntas sobre a minha rotina e a da minha mulher com declarações de que estava apaixonado por ela, de que ela era perfeita."
A seguir, ainda de acordo com o depoimento de Ferraz, a conversa começou a ganhar contornos eróticos.
"Quando a conversa começou a ficar mais pesada, com mensagens eróticas e a possibilidade de um encontro real, eu procurei a polícia e passei a eles a senha da página. Eles começaram, em tempo real, a ter acesso a nossa conversa", contou.

Encontro

Orientado pela polícia, o empresário afirmou ter marcado o encontro com o suspeito em uma padaria. Antes, Ferraz disse ter pedido ao acusado o envio de fotos dele e de características do carro que estaria usando no dia. O homem, achando que estava se relacionando com a menina, enviou as fotografias para o e-mail da criança e os detalhes do veículo.
De posse do retrato, policiais que se passaram por clientes da padaria fizeram a prisão em flagrante, logo após o suspeito ter estacionado o carro próximo ao estabelecimento comercial. A menina foi levada até o local marcado, para não levantar suspeita, mas não manteve contato com ele, de acordo com relato do pai.
Segundo a delegada Ione Barbosa, titular da Delegacia de Mulheres de Juiz de Fora, o homem, que não teve o nome divulgado, está preso e deverá responder pelos crimes de tentativa de estupro de vulnerável, transmissão de material de conteúdo pornográfico envolvendo crianças e abandono de incapaz.
A policial explicou que, para se encontrar com a filha de Ferraz, o suspeito havia deixado o próprio filho, de cinco anos e autista, sozinho em casa.
"Fomos até a casa dele, para apreender o computador, e nos deparamos com a criança sozinha em casa. Vimos também que ele transmitia material pornográfico envolvendo crianças pela internet."
A delegada afirmou que o acusado não tinha antecedentes criminais. O inquérito sobre o caso deverá ser encerrado em dez dias.
"Ele confessou tudo, confirmou o conteúdo das conversas e o encontro que supostamente teria com a menina. No entanto, ele nega que iria executar atos de sexo com ela."

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